Foto panorâmica da Igreja

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Evangelho de Lucas 20.27-40

Explicação do teólogo Gerson Linden sobre o Evangelho de Lucas 20.27-40, texto bíblico do culto desta segunda semana de novembro.


Mordomia da Oferta Cristã

Mordomia da Oferta Cristã

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sermão de Páscoa – 2012


Textos bíblicos: Sl 16 Is 25.6-9 1 Co 15.1-15 Mc 16.1-8
Texto base: Marcos 16.1-8

Tema: Os nossos problemas não eliminam a Páscoa.
É a Páscoa que elimina os nossos problemas...
                                               pastor Marcos Schmidt  
                                                  
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- Como eu vou resolver este problema? 
Esta é a pergunta que mais aparece em nosso dia-a-dia. 
- E agora, o que eu faço? 

No Domingo de madrugada, bem cedinho, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, estavam nervosas com uma situação que atrapalhava a vida delas: “Quem vai tirar para nós a pedra que fecha a entrada do túmulo”? Uma pedra, muito pesada, estava na entrada do jazigo, e aquelas três mulheres, sozinhas, não iriam conseguir tirá-la do lugar. Era madrugada, todos ainda estavam dormindo. E elas queriam o quanto antes embalsamar e arrumar o corpo de Jesus, antes que ele começasse a decompor. 

Todos os dias aparecem pedras no nosso caminho. Terça-feira passada , meio dia, fui buscar meu filho na escola. Na volta, entrei no meu gabinete, e procurei os óculos – sem eles não consigo ler nada. Mas, onde eles estão? Ao imaginar onde eles pudessem estar, me deu um frio na espinha, e pedi a Deus que a desconfiança não fosse verdade. Tinha colocado os meus óculos em cima do capô do carro, e lá ficaram na hora quando sai para buscar o meu guri no colégio. Pior, era verdade! Rapidamente disse para o meu filho: Pedro, vamos fazer o caminho de volta para a tua escola, e ir atrás do que deve ter sobrado dos óculos. No caminho, no meio do movimento intenso dos carros, numa das ruas mais movimentadas de Novo Hamburgo, na hora do pique, lá estavam eles, no meio do asfalto, intactos, apenas um pouco arranhados. Deus meu livrou imediatamente de um problema, bem no meio das minhas tarefas onde preciso ler e escrever. 

Os nossos problemas às vezes são simples, outras vezes são bem complicados. As vezes logo vem a solução, outras vezes não. Um simples óculos perdido, ou o prognóstico de uma doença grave. Não importa. São problemas, dificuldades, situações incômodas que atrapalham a nossa vida e nos causam nervosismo e ansiedade. E, dependendo do nosso estado emocional, do nível de estresse que já estamos passando, uma pequena “incomodação” pode transformar-se num grande e terrível problema. 

Eu fico imaginando aquelas três mulheres, depois de passarem por toda aquela angústia e aflição na Sexta-feira, quando o seu mestre e amigo Jesus morreu barbaramente na cruz. Creio que nem conseguiram dormir nas últimas horas, muito menos se alimentar direito. Estavam em estado de choque por tudo o que presenciaram. E agora, no caminho, outro problema: a pedra, quem vai removê-la? 

É muito fácil aqui julgar estas mulheres e dizer: - Mas que coisa, enquanto Jesus estava vivo, enquanto tinha sido ressuscitado, elas se preocupavam com uma pedra? Onde está a fé destas seguidoras de Jesus? 

Nestes meus anos de conselheiro pastoral, eu tenho aprendido algo muito importante no que se refere ao assunto “sofrimento”: de não julgar os cristãos que estão diante de problemas e reagem com dúvidas e perguntas sobre o amor e cuidados de Deus. 

Eu até penso que é por isto que os membros das nossas congregações preferem guardar os seus problemas, e não contá-los para ninguém, nem para o pastor. Ainda mais quando o sofredor é um líder – alguém que precisa dar o exemplo. Eles têm medo de que serão julgados e chamados de “alguém fraco na fé”. 

Pois a história da Páscoa vem desmistificar este “supercristianismo, esta arrogância, esta prepotência, esta ideia de ser imbatível na hora das dificuldades – sejam pequenas ou grandes. 

É só dar uma olhadinha, e descobrimos que estes discípulos e seguidores de Jesus, eles são iguaizinhos a nós. Diz o nosso Evangelho que depois do anjo dizer que Jesus estava vivo, as mulheres fugiram do túmulo, apavoradas e tremendo. A pedra tinha sido removida, e Jesus estava vivo, mas mesmo assim ainda continuavam aflitas e desorientadas. 

Depois vemos os discípulos, conforme narram os Evangelhos. Eles também não acreditaram na ressurreição, mesmo quando Jesus apareceu a eles. O Senhor precisou dizer: Olhem, eu não sou um fantasma. Mesmo assim eles tremeram de medo e ficaram com dúvidas. Tomé foi o principal deles. Nas diversas vezes que Jesus apareceu a eles, eles não o reconheceram – tamanha era a situação de espanto e fraqueza emocional. É claro, havia fraqueza espiritual – mas ali estava Jesus para socorrê-los, e não para condená-los. 

Penso que aquela pedra que impedia a Páscoa – e que nem mais estava no caminho das mulheres – tem algo muito significativo a nos ensinar – nós que somos as atuais testemunhas da ressurreição de Jesus. Até porque, se Jesus é ROCHA PODEROSA E NOSSO ABRIGO, e FUNDAMENTA A NOSSA VIDA, precisamos saber lidar com outras rochas, pedras, que tanto estragam o nosso dia a dia, trazendo-nos inúmeras preocupações. 

E a primeira coisa que precisamos entender é a seguinte: as incômodas pedras aparecerem todos os dias, pedras pequenas, pedras grandes. E as elas nem sempre serão removidas, de uma hora para a outra, como aconteceu com os meus óculos. 

E daí vem outro fato importante: se os óculos não forem encontrados, se a pedra não for tirada do lugar, ainda permanece a Páscoa. Imaginemos aquelas mulheres chegando lá no sepulcro, e aquela enorme pedra ainda na frente dele, obstruindo a entrada? Ora, Jesus não atravessou as portas trancadas quando apareceu aos discípulos? O Deus que enfrentou a inacessível muralha da morte, por acaso não pode atravessar uma rocha para sair do túmulo? 

A pedra removida no túmulo de Jesus foi apenas um simples fato, uma cotidiana situação, que não muda em nada a história da Páscoa, mesmo que ela não tivesse sido removida. Os detalhes da experiência humana – sejam eles positivos ou negativos, bons ou ruins, de sucesso ou de fracasso, enfim, o que acontece de bom ou de ruim em nossa vida, não muda em nada o que ocorreu dentro daquele túmulo, onde foi colocado o corpo de Jesus. 

E por isto então o mais espetacular, o mais impressionante nesta história: nem mesmo a nossa morte, nem mesmo a morte de nossos entes queridos, pode mudar a realidade da Páscoa. Aliás, é o contrário: A Páscoa é que muda a realidade de nossa morte, a Páscoa é que muda tudo aquilo que é consequência da realidade do pecado e da morte... 

Pena que muitos não acreditam nisto. É o caso do escritor Luis Fernando Verissimo (e que foi assunto do meu artigo no NH). Verissimo, no artigo que saiu na Zero Hora na última segunda-feira, sob o título “Bandarilheiro” – toureiro espanhol – escreve que a morte de Millôr Fernandes é “a burrice irreversível, a burrice triunfante” ao comparar o ilustre chargista com um toureiro vencido nos chifres da besta. Ele diz o seguinte sobre a morte “Por mais ridicularizada que ela seja, a vitória é sempre dela. E depois vem a burrice eterna”. 

Escrevi no meu artigo que “É uma lástima que este escritor ofereça à morte um prêmio que não lhe compete e transforme a Páscoa em mero coelhinho de chocolate”. 

Ora, nós cremos que a morte não é uma burrice irreversível, triunfante. Foi o apóstolo quem disse: “A morte está destruída! A vitória é completa! Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir? (1 Coríntios 15.54,55). 

Paulo, ele mesmo confessa nesta carta aos coríntios, logo depois da leitura da epístola de hoje, que também é um bandarilheiro: “Eu enfrento a morte todos os dias”. 

É nosso caso. Também enfrentamos a morte todos os dias: no trânsito, nas doenças, na violência... E um dia ela nos irá nos alcançar, e seremos derrotados. Seremos? Se confiarmos no poder da morte e não no poder da vida, então seremos. Mas nós temos a Páscoa e podemos dizer com Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo só vale para essa vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo. Mas a verdade é que Cristo foi ressuscitado, e isso é a garantia de os que estão mortos também serão ressuscitados”. 

O conflito das três mulheres naquela manhã de Páscoa, relatado aqui em no Evangelho, com certeza tem algo a nós dizer. Naquele momento elas só enxergaram a pedra. E quando ela nem estava mais lá, ainda assim não conseguiram enxergar aquilo que está no Salmo 16(8): “Estou certo de que o Senhor está sempre comigo; ele está ao meu lado direito, e nada pode me abalar”. 

Pois são nos momentos de aflição, angústia, medo, são nas horas de “e agora, o que eu faço”, que Jesus está e continua do nosso lado. E não importa o tamanho de nosso problema. Esta é a maravilhosa notícia da Páscoa: o Senhor Jesus está vivo e muito presente em todos os momentos e situações de nossa vida. Creio que é por isto que, junto com a principal história da Bíblia, encontra-se uma pergunta que é minha e é tua: Quem vai tirar para nós a pedra? Pois a Páscoa tem a resposta! Amém!