A Páscoa foi diferente para a família Schunck. Sem ovos de chocolate, sem feriadão, sem o almoço em conjunto. É que o corpo do esposo e pai, vítima de um acidente de avião e internado na UTI havia uma semana, desceu à sepultura bem neste domingo. No dia anterior quando “decolou” num vôo mais prolongado, completaria 54 anos. Meu colega e eu tínhamos a tarefa de transmitir a notícia certa e oportuna no velório: Jesus ressuscitou, e por isto o Carlos também ressuscitará. No silêncio do cemitério, cortado pelo barulho dos aviões que sobrevoavam com uma faixa preta, percebia-se no semblante da esposa e dos filhos que a Páscoa, de fato, era diferente – desta que está por aí.
Ouvi pela televisão o relato daquele pai que perdeu os três filhos, atropelados em Bento Gonçalves. É a pior tragédia que pode acontecer numa família. Este é um mundo de sofrimento, e o luto é o mais cruel de todos. A Páscoa não resolve o problema da dor, da ausência, da saudade. Mas indiscutivelmente ajuda a suportar. Não é uma droga que deixa a pessoa dopada. Ao contrário, deixa “forte, firme e ocupada” (1 Coríntios 15.58). Lido com o sofrimento das pessoas enlutadas e posso afirmar que a esperança cristã na ressurreição faz a grande diferença.
A dor do luto é um sentimento indescritível de não poder mais estar com a pessoa amada. Um desejo de querer ver, abraçar, tocar alguém estimado que partiu para sempre. Para sempre? A Páscoa contesta. Ou como diz a Bíblia na primeira carta aos coríntios, capítulo quinze: “Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo. Mas a verdade é que Cristo foi ressuscitado, e isso é a garantia de que os que estão mortos também serão ressuscitados”.
Mas, o que é a “ressurreição” cristã? É diferente da reencarnação que descarta o corpo para a salvação do espírito. Ressurreição é o “eu” completo, corpo e alma – a matéria se revestindo da imortalidade (1 Coríntios 15.54). Morte é o corpo desnudo, pelado, sem alma. Ressurreição é o corpo vestido outra vez. É a repetição de Gênesis 2.7 – do sopro divino no nariz humano. Por isto a fé na criação e não na teoria da evolução. Porque se viemos de um bicho (e bichos não têm alma), de onde surge o sopro da vida - a alma? Também evolui do nada? Melhor é acreditar na criação e na ressurreição. Triste é acreditar apenas na matéria e nunca mais poder “ser” alguém ou “ver” alguém depois da morte. Ou como diz a Bíblia: Se a nossa esperança só vale para esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo.
“Se Cristo não foi ressuscitado, nós não temos nada para anunciar, e vocês não têm nada para crer” (1 Coríntios 15.14). Mas nós tínhamos, sim, algo para dizer para a família Schunck. E ainda temos, porque a Páscoa não acaba junto com os ovos de chocolate. Porque “nós cremos que Jesus morreu e ressuscitou; e assim cremos também que, depois que Jesus vier, Deus o levará de volta e, junto com ele, levará os que morreram crendo nele” (1 Tessalonicenses 4.14).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 16 de abril de 2009