O jornal de maior circulação nos Estados Unidos afirmou no último domingo que a Amazônia é patrimônio não apenas dos países que dividem seu território. Lembrou uma frase do ex-vice-presidente Al Gore: "Ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós". Segundo o artigo, a discussão deve aumentar nos próximos anos diante da necessidade crescente por recursos energéticos e de uma preocupação cada vez maior com mudanças climáticas e poluição.
Pode parecer antipatriótico, mas o jornal não deixa de ter razão. Evidente que vamos ter que discutir com a maior potência sobre o lixo que eles próprios jogam pela janela. Os Estados Unidos são responsáveis por um quarto da fumaça que sai dos carros e das indústrias. Sobre todos os gases que provocam o efeito estufa, eles emitem 46%, enquanto nós brasileiros 5%. Portanto, se o assunto é poluição, mudança climática, consumo de energia, então a polícia da Terra precisa invadir a maior potência do mundo e desapropriar suas riquezas. Mas ninguém é louco de fazer isto, assim como ninguém é estúpido de invadir a Amazônia. Ou é? Em todo o caso, se os terráqueos não invadirem as próprias consciências com juízo, não vai sobrar ninguém para dizer que isto ou aquilo tem dono.
A Amazônia tem dono, sim, pertence ao seu criador. “Ao Senhor Deus pertencem o mundo e tudo o que nele existe” (Salmo 24.1). Nós, brasileiros, somos apenas capatazes, gerentes deste pulmão da Terra. Nem do próprio nariz somos proprietários. “Vocês não pertencem a vocês mesmos, mas a Deus, pois ele os comprou e pagou o preço” (1 Coríntios 6.19). Na verdade, aí começa o nosso problema, que é o problema desta civilização não civilizada. Nos “adonamos” das coisas, das pessoas, e, atordoados pelo poder e ganância, desmatamos, destruímos, matamos. Marina Silva, cristã praticante, ex-ministra do Meio Ambiente por ser uma pedra no sapato dos “donos do mundo”, disse algo que poderia ser a solução para este planeta em extinção: “Quando a gente ocupa um espaço de poder, por mínimo que seja, incluindo uma coluna de jornal, a gente sofre a tentação de querer olhar as pessoas de cima para baixo. Aprendi que a gente tem que olhar de baixo para cima. De baixo para cima a gente consegue enxergar o que está acima de nós. A Amazônia está acima de nós. E com esse olhar a gente é capaz de enxergar que, para fazer algo que seja bom, é preciso se colocar numa perspectiva de serviço, que também pode ser o gesto de abrir o caminho para que outro ocupe o seu lugar”.
Desde o dia quando o ser humano foi expulso da floresta do Éden, nunca mais deixou de erguer Torres de Babel, fincando bandeiras e dizendo “isto é meu”. Só mesmo um Deus tão louco (1 Coríntios 1.18) para descer até este lugar e ser pregado numa árvore derrubada. Mas o Filho de Deus abriu mão de tudo o que era seu (Filipenses 2.7) exatamente para abrir o caminho a fim de que pudéssemos ocupar o lugar onde ele está. E para que um dia finalmente todos saibam quem é o dono da Amazônia.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 22 de maio de 2008
Jornal NH de 22 de maio de 2008