Entre as explicações sobre o caso do adolescente homicida de Novo Hamburgo, alguns acreditam que ele carrega o perfil de um serial killer - assassino em série. O assunto é de arrepiar. Não é um filme com controle na mão, mas a realidade sem controle. É o horror na vida da família, do bairro, da cidade. É o medo, perplexidade, insegurança. É uma saraivada de sentimentos misturados com o estresse cotidiano que atinge a todos, mesmo aqueles que estão bem longe. Longe? Na verdade, ninguém consegue ficar à distância. De alguma forma, todos estão envolvidos. É uma bactéria, um vírus, uma dengue que se espalha, contamina e mata.
De onde vem tudo isto? Herança genética, ambiente familiar, drogas, exclusão de uma sociedade doentia? Conseqüências da desigualdade social? Injustiça explicitada no consumismo do luxo versus miserabilidade no lixo? Mas o que dizer da barbárie praticada por uma empresária de Goiânia contra uma menina? Ou da chocante malvadez com a criança supostamente jogada do 6º andar em São Paulo? Que as suspeitas contra o pai e a madrasta não se confirmem! Qual a explicação para a morte do professor esfaqueado numa escola de Vacaria? Gostaríamos de acordar deste pesadelo, mas é tudo realidade. Está acontecendo mesmo.
Uma médica que trabalha com vítimas de atos violentos no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, fala de uma “epidemia democrática e abrangente”. Diz que há um aumento alarmante da violência envolvendo crianças, e boa parte disto tem ligação com o ambiente familiar, separações no casamento, famílias compostas por pais e mães que não são os de sangue. Comenta que, apesar do problema estar visivelmente exposto nas classes sociais baixas, nas outras camadas da sociedade ocorre de forma camuflada.
Não existe outra explicação: o problema está na família. Não vai ser a escola, os conselhos tutelares, o governo, ou qualquer outra instituição que possam dar um fim a esta agonia. É a família, é o casamento, é mãe e pai, é fidelidade, é respeito entre marido e mulher, é amor-sacrifício pelos filhos. Mas onde encontrar o “lar doce lar” nesta amarga sociedade, viciada no prazer, adoidada pelo consumismo, paganizada sob a tirania da tecnologia, moralizada pelas novelas, vidrada em Big-Brother, idealizada pelos fins que justificam os meios?
Entre as explicações dos especialistas sobre o caso deste menino matador e da violência generalizada, pode parecer simplista afirmar que tudo está na alma do ser humano. Aquele que ressuscitou explica: É de dentro do coração que vêm os crimes de morte (Marcos 7.21). O apóstolo ressalta: De onde vêm as brigas entre vocês? Elas vêm dos maus desejos que estão lutando dentro de vocês? Querem muitas coisas; mas como não podem tê-las, estão prontos até para matar a fim de consegui-las (Tiago 4.1,2).
O problema está no coração, mas a solução está fora dele: Cheguem perto de Deus, e ele chegará perto de vocês (Tiago 4.8). E se o pavor toma conta, lembro das perseverantes palavras do Salmo 16, conforme liturgia deste 3ª Domingo na Páscoa: Guarda-me, ó Deus, pois em ti eu tenho segurança! Tu, ó Senhor Deus, és tudo o que tenho... O meu futuro está nas tuas mãos; tu diriges a minha vida... Estou certo de que o Senhor está sempre comigo; ele está ao meu lado direito, e nada pode me abalar. Por isso o meu coração está feliz e alegre, e eu, um ser mortal, me sinto bem seguro.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 3 de abril de 2008
Jornal NH de 3 de abril de 2008