Meu concunhado guarda em casa o assento do avião que salvou a vida dele num acidente da Esquadrilha da Fumaça, no tempo quando integrava e comandava estas perigosas acrobacias. Lembrei dele quando vi as imagens da tragédia em Santa Catarina, que levou a vida do piloto. O assento ejetável, equipado com foguetes e paraquedas, é a única saída para escapar da morte neste tipo de acidente. No entanto, por alguma razão o piloto não conseguiu acionar o dispositivo, e o assento salva-vidas não serviu para o seu propósito.
No lugar do ovo de chocolate, que já comeram, o assento poderia explica melhor a Páscoa. Porque um dia o avião vai cair, e aquele que estiver bem sentado, será imediatamente ejetado da morte para a vida. No tempo bíblico não existia avião, mas a ressurreição já era a principal doutrina cristã. Paulo escreve que “assim como, por estarem unidos com Adão todos morrem, assim também, por estarem unidos com Cristo, todos ressuscitarão” (1 Coríntios 15.22). Diferente da reencarnação, os cristãos acreditam na ressurreição – isto é, a alma voltando ao mesmo corpo. Ou como diz a Bíblia, “mesmo que a minha pele seja toda comida pela doença, ainda neste corpo eu verei a Deus” (Jó 19.26). Ou seja, a minha alma voltará para o meu corpo, com os meus olhos, boca, coração, no dia da volta de Cristo. Porque “quando o corpo é sepultado é um corpo mortal; mas quando for ressuscitado, será imortal” (1 Coríntios 15.42).
Mas este escape da morte precisa do assento ejetável. Como isto funciona? Igual ao que acontece na Força Aérea. Porque não basta ser cristão, é preciso também ser apto para pilotar. Ao comparar com o antigo soldado romano, o apóstolo recomenda: “Vistam-se com toda a armadura que Deus dá a vocês, para ficarem firmes contra as armadilhas do Diabo” (Efésios 6.11). Também poderia dizer que a Páscoa é igual ao cinto de segurança do carro. Na hora do acidente, é preciso estar com ele.
É por isto que o meu concunhado tem como lembrança aquele assento – a única coisa que sobrou do avião. E a cada ano, no mundo inteiro, ele, e outros ressuscitados graças ao assento ejetável, têm encontros para celebrar a vida. É a Páscoa deles.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 8 de abril de 2010