Religião e política
Creio
que não interessa para certos segmentos da cristandade o pensamento de Lutero
sobre a mistura de religião com política. “Que são, pois, os sacerdotes e
bispos?”, pergunta o teólogo lá no século 16. Responde que “o regime deles não é
de autoridade ou poder, mas de serviço e função. Não devem impor lei ou
mandamento a outros sem a vontade e consentimento deles. Seu governo não é outra
coisa que pregar a Palavra de Deus e com ela conduzir os cristãos e vencer a
heresia”. Nesta compreensão, o reformador lembra que “é preciso distinguir
cuidadosamente os dois regimes, e deixá-los vigorar – um que faz alguém ser
cristão, outro que garante a paz exterior e combate as obras más”. Na
prática, Lutero diria hoje: Cristãos, escolham pessoas honestas, capazes de
fazer e executar leis, competentes administradores. Não usem a política para
obter vantagens pessoais e privilégios de poder, mas para servir o próximo. E
vocês, pastores, tenham cuidado com seu poder de influência e não subjuguem as
consciências, mas permitam que cada qual escolha livremente o seu candidato.
Lutero
entendia que “política é o esforço racional permanente e paciente de estabelecer
e preservar uma ordem social de acordo com os valores do cristianismo”. Ao citar
os fundamentos bíblicos da ética política, defende que igreja e estado, apesar
de interligados, são dois governos de Deus com propósitos distintos e com
funções que não devem ser misturadas. Lamentavelmente, não é isto que se percebe
no cenário brasileiro, especialmente nesta época de campanha política. Onde tudo
isto termina? Nos conchavos do “toma-lá-dá-cá” que tanto corrompem a imagem do
Evangelho e da própria política. Não é por nada tamanho descrédito nas promessas
dos púlpitos e dos palanques. “Uma coisa
conseguirão com essa inteligência maravilhosa”, adverte Lutero, “quebrarão o
pescoço e lançarão o país e o povo em desgraça e miséria”.
Marcos
Schmidt
pastor
luterano
Igreja Evangélica
Luterana do Brasil
Comunidade São
Paulo, Novo Hamburgo, RS
6 de setembro de
2012