No meio de fogueiras e futebol, João Batista é lembrado (e esquecido) neste 24 de junho, que conforme a tradição, nasceu 6 meses antes de Jesus. Foi um cara esquisito já nos padrões daquele tempo. Ermitão do deserto, com um roupão de couro de camelo, comendo gafanhotos, vuvuzelava às pessoas: “Arrependam-se dos seus pecados porque o reino do céu está perto” (Mateus 3). Teve um final melancólico – foi preso por falar o que não devia e decapitado, com a cabeça numa bandeja. Tudo pelos caprichos de um rei que também perdeu a cabeça, mas por uma dança sensual de Salomé (Mateus 14.11).
Estranho festejar a vida deste pobre coitado, vestindo-se de caipira e dançando quadrilha. Mas tem alguma coisa normal neste planeta? As contrariedades são as regras, as normalidades exceções. Por isto, seria uma vida decadente ao formato de sucesso, se Jesus não tivesse afirmado: “De todos os homens que nasceram, João Batista é o maior” (Mateus 11.11). “Ele é o cara”. Esta é a conclusão do Salvador. Com isto, João tem de volta a cabeça, a boca, a voz, a mensagem. A vida. E por quê? Porque ele preparou o caminho para passar aquele que disse: Eu sou a Vida. É que João Batista pregou o arrependimento dos pecados, a única estrada para o perdão que Jesus oferece na cruz.
Os problemas são os outdoors, as propagandas que surgem na viagem. E que convidam aos atalhos e caminhos alternativos. Algo parecido com a própria festa de São João. O objetivo dela é a reflexão. Nada contra os festejos, mas então, que fosse a Festa da Fogueira, ou coisa parecida. São as contrariedades. E assim a gente vive o dia-a-dia. Depois, quando termina a brincadeira, vem o que é sério. E daí não adianta dançar quadrilha, ou vestir a camiseta do time.
Também não adianta ser um João Batista. Foi Jesus quem disse: “Ele jejua e não bebe vinho, e todos dizem: está endemoninhado. O Filho do Homem come e bebe vinho, e todos dizem: Vejam! Este homem é comilão e beberrão”. (Mateus 11.18-19). Por isto a conclusão do Salvador: não importa o que as pessoas falam, o que interessa é o resultado, o que a pessoa é. Algo difícil quando a gente vive de aparência e não de substância. Mas nada impossível enquanto o reino do céu ainda está perto.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 24 de junho 2010