O nosso jeito de viver não tem mais sentido – se é que um dia teve. É só parar um pouco e descobrir que estamos andando em círculo, isto é, a lugar nenhum. Se bem que parar é o que mais se faz. Um estudo diz que os congestionamentos atingem 1/3 da população brasileira, e desse total, 20% ficam presas no trânsito mais de uma vez por dia. O mais absurdo é que se paga muito caro para esta prisão de quatro rodas. Pelas contas, o transporte hoje tem os mesmos custos da alimentação, ou seja, 20% de nossa renda. Não é uma loucura? Construímos veículos sofisticados que consomem boa parte de nosso salário, para depois nos deixarem presos e estressados no asfalto?
E se descobrimos que as ruas não mais suportam tantos carros, o que dizer do congestionamento populacional? Os demógrafos dizem que no dia 31 de outubro de 2012 vai nascer o “bebê número 7 bilhões”. Tem espaço para tanta gente? Os cientistas calculam que há comida suficiente no mundo para nos alimentar até em 2050, quando a população do planeta será de 9 bilhões – mas isto ainda depende do uso adequado dos recursos naturais.
Mas este é nosso drama, estamos acabando com os recursos do planeta – esta “nave espacial” com combustível, água, alimento e condições de sobrevivência que estão se esgotando na prateleira. E com isto chegamos a conclusão do autor de Eclesiastes (2.1-11). Ele buscou cegamente o prazer da bebida, do consumismo, da riqueza, da promiscuidade, do individualismo, mas no final descobriu que era tudo ilusão. Hoje vivemos no topo do consumismo tecnológico, mas descobrindo que, além de ilusão, tudo retorna em lixo tóxico e destrutivo.
Quando a Bíblia diz que “por meio do Filho, Deus resolveu trazer o Universo de volta para si mesmo” (Colossenses 1.20), tal promessa de um novo céu e uma nova terra (Apocalipse 21.1) não elimina a responsabilidade humana e, sobretudo cristã, de cuidar do Jardim (Gênesis 2.15). Creio que podemos aproveitar este tempo quando ficamos presos nos congestionamentos, e refletir neste jeito louco de viver. Não vamos individualmente resolver os graves problemas do planeta, mas não precisamos cooperar na degradação dele.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 27 de janeiro, 2011