Se a gente consegue sobreviver à violência dentro e fora de casa, aos acidentes domésticos e de trânsito, corre ainda o risco de ser abatido por inimigos que se alojam no corpo. Nas últimas semanas o assunto é dengue, febre amarela, hepatite A, e o terrível acinetobacter. Qualquer um poder ser a próxima vítima. Todos estão no meio de uma “guerra civil” e são alvo fácil de franco-atiradores. O Doutor Bactéria alerta que todo o cuidado é pouco. E se lavar as mãos era uma mania de gente com TOC, agora é a primeira recomendação.
“Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”. E agora? Qual a saída para manter-ser sadio também da cabeça? Pensando bem, esta é a moléstia mais contagiosa: o pânico. Mas, como não aumentar a adrenalina com tudo o que está acontecendo? É um sentimento normal que faz parte, e que tem nome: extinto de sobrevivência. Mas a questão é o equilíbrio emocional. Por exemplo, não adianta nada permanecer vivo e de corpo são, mas doido da cabeça. Trancado dentro de casa com receio de ser assaltado, sair na rua com guarda-costas, manter-se longe dos hospitais, encher-se de repelente, usar colete à prova de balas, e apesar de todos estes e outros cuidados, com a bactéria do pavor alojada nos pensamentos.
“Durante a vida inteira estamos sempre em perigo de morte” (2 Coríntios 4.11). Além das moléstias daqueles tempos desprovidos da medicina moderna, Paulo tinha outro perigo de morte: “...por causa de Jesus”. E de fato, sucumbiu sob o martírio, igual a tantos outros cristãos primitivos. Pode parecer anestesia mental, mas nestas horas quando a coisa encrespa, a genuína crença faz a diferença. Digo “genuína”, porque tem fé que imprime ainda mais o medo, o pavor de um “deus” que exige retorno, que cobra gratificação, que castiga aqueles que não cumprem as metas. Quantos vãos aos templos e saem ainda mais apavorados e senis?
No amor não há medo, escreve João. O amor que é totalmente verdadeiro afasta o medo (1 João 4.18). E porque ele tem esta certeza? Ele responde: Deus nos deu o seu Espírito (1 João 4.13). No Evangelho o mesmo apóstolo lembra as palavras do Salvador: Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho (João 3.16). Agora, na Epístola, ressalta: Deus é amor (1 João 4.16).
Isto não significa que um cristão tem o “corpo fechado” para as desgraças. Espalham o vírus da heresia aqueles que ensinam que doença, pobreza e todos os males são resultado da falta de fé. Se isto fosse verdade, os apóstolos seriam cristãos medíocres, e o próprio Senhor Jesus um fracassado. O que o cristão possui, na verdade, é aquilo que diz Paulo: Eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus; nem os sofrimentos, nem as dificuldades, nem a perseguição, nem a fome, nem a pobreza, nem o perigo ou a morte (Romanos 8.35).
Pois nestes tempos onde o próprio lar está contaminado por medo e terror, só resta um desinfetante: Ainda que o meu pai e a minha mãe me abandonem, o Senhor cuidará mim. Confie no Senhor. Tenha fé e coragem (Salmo 27.10, 14).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 10 de abril de 2008
Jornal NH de 10 de abril de 2008