O assombroso interesse no caso Isabella tem explicação no sensacionalismo da mídia e no doentio gosto popular por tragédias alheias. Mas têm outras coisas. O assunto já superou todos os tipos de cenas fantasiosas num enredo de novela, até mesmo com a célebre pergunta: Quem matou quem? Um antropólogo comenta que o caso veio a calhar para a mídia, que é o grande filtro, mas tira o espaço de coisas muito mais importantes para a vida coletiva.
Mas o fato não deixa de ser importante para a sociedade, sobretudo se for confirmado que o pai e a madrasta são os assassinos. As últimas informações apontam para uma tragédia familiar que atinge indiretamente todas as famílias. Brigas de marido e mulher e violência contra os filhos são sintomas de uma doença degenerativa da sociedade. E a terrível constatação nisto tudo é que a corda sempre arrebenta no mais fraco. E se não bastasse, ainda tem o circo armado. Não é nenhum exagero dizer que por traz de tudo existe algo pervertido, como naqueles espetáculos romanos, quando o povo lotava os estádios para ver o leão comer gente.
Parece que o bom senso do povo também foi atirado do sexto andar. E este é o nosso dilema, discernir o relevante do banal, o certo do errado num tempo quando o que vale é a emoção e o espetáculo. Que nada é absoluto, isto é filosofia e tragédia gregas. Mas que tudo é relativo conforme os sentimentos, isto é coisa de mercado difundido por novelas fictícias e reais. Conceitos e valores são jogados pela janela, e ninguém sabe por que, para que e por quem. As coisas simplesmente acontecem sem propósitos definidos. Por exemplo, uma mulher, um homem e um homossexual vivem um triângulo amoroso, têm um filho, formam uma “família”. É certo, é errado? Isto não depende do que a maioria ou a minoria pensa, mas do que um autor de novela julga conveniente – conforme os índices de audiência, é claro.
O apóstolo Pedro alertou contra os mestres que escreviam as “novelas” da época, dizendo que muita gente vai imitar a vida imoral deles. Sob a influência da cultura grega, do hedonismo, do culto ao prazer, Pedro lembra que na ambição deles por dinheiro, exploram com histórias inventadas. Traça um perfil bem definido: são atrevidos, agem por instinto; têm prazer em satisfazer em pleno dia seus desejos imorais; o seu apetite pelos prazeres imorais nunca fica satisfeito; prometem liberdade, mas eles próprios são escravos de hábitos indecentes (2 Pedro 2).
Este é o modelo que a mídia hoje oferece de forma bem sutil. E não adianta olhar para a janela de cima, nem para a de baixo. Todos têm duas caras - o bem e o mal. E aí a explicação de nosso interesse no caso Isabella, afinal, cada um carrega um assassino dentro de si. Paulo foi corajoso ao confessar: Pois não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero é que eu faço (Romanos 7.19). O drama dele teria um fim trágico se não fosse a última cena: Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte? Que Deus seja louvado, pois fará isso por meio do nosso Senhor Jesus Cristo! (Romanos 7.24,25).
Assustadoramente, todos estamos no sexto andar.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 17 de abril de 2008