Saiu uma lista dos novos pecados capitais: fazer modificação genética, poluir o meio ambiente, causar injustiça social, contribuir com a pobreza, tornar-se extremamente rico e usar e traficar drogas. Aqueles que não conheciam a antiga lista agora aprenderam com a novela: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Por falar nisto, colocaria mais um na fileira: contribuir com a audiência das novelas. Em todo o caso, isto foi publicado no jornal do Vaticano para adaptar à "realidade da globalização", explicam os teólogos católicos que diferenciam pecados capitais (maiores) dos veniais (menores).Lembro-me de alguém escrever que hoje os pecados capitais deveriam ser a autopromoção, hiperatividade, eterna juventude, ironia forçada, falsa humildade, esnobismo popular e voyeurismo. No entanto, lembro também que a Bíblia não faz diferença entre pecados e pecadinhos, dos tempos do Ari Pistola ou dos tempos pós-modernos. Ela simplesmente diz que todos se desviaram do caminho certo, que não há ninguém que faça o bem (Romanos 3.12). Que quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos (Tiago 2.10).
Assim, pouco importa queimar uma Amazônia ou incendiar um coração com ódio quando a balança é a mão de Deus. Jesus explicou isto para os fariseus: tirar a vida de alguém ou ofende-lo verbalmente é a mesma coisa; adulterar ou pensar “bobagens” carrega o mesmo grau de condenação (Mateus 6.21-30). O escândalo sexual do governador de Nova Iorque ou os olhares de “big-brother” na mulher do vizinho sofre o mesmo impeachment divino.
O termo grego mais usado no Novo Testamento para “pecado” é hamartia, que literalmente quer dizer “errar o alvo”. O apóstolo Paulo insiste com sua inspirada pena sobre o pergaminho: Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus, mas Deus ofereceu Cristo para o perdão dos que crêem (Romanos 3.23-26). Do começo ao fim as Escrituras jogam esta radiante notícia aos quatro ventos: o pecado perdeu o poder de condenação; quem agora pode alguma coisa é a soberba descrença.
Mas a Bíblia fala em pecado mortal (1 João 5.16). Ela mesma explica: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida é nossa por meio do seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida (1 João 5.11,12). Portanto, pecado mortal é a insistente rejeição da existência do próprio pecado e do perdão. Por isto as palavras: Se dizemos que não temos pecado, estamos nos enganando, e não há verdade em nós. Mas, se confessamos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade (1 João 1.8,9).
Este foi o erro de Judas. Não foi a ganância nem a traição dele, mas o descrédito no amor de Jesus. Se deu conta da infâmia, mas deixou escorrer entre os dedos do desespero a graciosa água do perdão. Enquanto isto, em vez de pendurar o pescoço, Pedro enforcou sua prepotência e traição. Simplesmente porque acreditou nas palavras: Deus anulou a conta da nossa dívida pregando-a na cruz (Colossenses 2.14).
Por falar em lista, interessante mesmo a publicação do salmista: Se tu tivesses feito uma lista dos nossos pecados, quem escaparia da condenação? Mas tu nos perdoas, e por isso nós te tememos (Salmo 130.3,4).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 13 de março de 2008