Arriscado seguir a filosofia da canção “Deixa a vida me levar”, conforme letra de Zeca Pagodinho. Uma parte dela diz assim: “Se a coisa não sai do jeito que eu quero, também não me desespero, o negócio é deixar rolar. E aos trancos e barrancos lá vou eu! E sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu. Deixa a vida me levar – vida leva eu”.
Que o desespero só atrapalha quando a coisa não sai do jeito que a gente quer, disto ninguém duvida. Flexibilidade, discontração, certo humor, coisas que ajudam numa jornada turbulenta de “bolsas” que sobem e despencam. Além do mais, ninguém aguenta aquele cara nervoso, sizudo, carancudo, que tem uma núvem carregada em cima dele e cria pânico onde não existe febre amarela.
Por outro lado, ir aos trancos e barrancos, deixar a vida levar - isto é canção da cigarra que pensa que a vida é um eterno verão. Não conheço o Zeca Pagodinho e não é dele que estou falando. Falo de mim mesmo. De buscar esta sabedoria para saber quando é tempo de ficar triste e tempo de se alegrar, tempo de chorar e tempo de dançar, tempo de economizar e tempo de desperdiçar (Eclesiastes 3).
Jesus mesmo recomendou que não se deve ficar ansioso com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações (Mateus 6.34). Mas em outra ocasião, depois de contar a parábola das moças que não levaram óleo de reserva e ficaram perdidas na escuridão, concluiu: Fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia nem a hora (Mateus 25.13).
Salomão disse que a melhor coisa é comer e beber e se divertir com o dinheiro que ganhou. E lembra que mesmo isto vem de Deus. Mas no final tudo é ilusão. É como correr atrás do vento (Eclesiastes 2.26). Aos jovens dá um recado: Aproveite a sua mocidade e seja feliz enquanto é moço. Faça tudo o que quiser e siga os desejos do seu coração. Mas lembre de uma coisa: Deus o julgará por tudo o que você fizer. Não deixe que nada o preocupe ou faça sofrer, pois a mocidade dura pouco (Eclesiates 11.9,10).
Foi aos trancos e barrancos da criminalidade o desfecho chocante de um bandido na última segunda-feira na capital paulista. Diante das câmeras de televisão atirou contra o próprio peito. Encurralado pela polícia e mantendo pessoas reféns, ainda falou com a mãe pelo telefone e depois puxou o gatilho. Será que estes criminosos não sabem que, se alguém não os matar, eles próprios se matarão?
O apóstolo Paulo escreveu que a pessoa colhe o que planta. Seria o óbvio se não fosse o que segue: Se plantar no terreno da sua natureza humana, desse terreno colherá a morte. Porém, se plantar no terreno do Espírito de Deus, desse terreno colherá a vida eterna (Gálatas 6.8). Um pouco antes já tinha lembrado que as coisas que a natureza humana produz são imoralidade, impureza, ações indecentes, adoração de ídolos, feitiçarias, inimizades, brigas, ciúmes, raiva, ambição, desunião, divisões. Mas o Espírito de Deus produz amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade, domínio próprio.
Pensando bem, dependendo qual é a vida, melhor mesmo é deixar que ela nos leve. Foi o que fez o autor de outra canção: Pois para mim viver é Cristo, e morrer é lucro. Mas, seu eu continuar vivendo, poderei fazer algum trabalho útil. Então não sei o que devo escolher (Filipenses 1.21,22).
Então, “deixa a vida me levar, vida leva eu”.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 24 de janeiro de 2008