O maior legado de Michael Jackson não é o reinado da música pop. É a placa sinalizadora: “Não siga por este caminho”. É o exemplo da busca por um reino que não vale a pena. Mas histórias assim se repetem porque a dança segue a música. Um ritmo parecido com o "Thriller" – isto é, um mundo de zumbis que apresenta uma sociedade de “reis e rainhas do pop” que emergem das sepulturas, gente que vive mas está morta. Gente que nunca cresce, mas segue no mundo da fantasia construindo ranchos Neverland para fugir da realidade.
No entanto, Michael é uma vítima da obsessão paterna que projeta os próprios sonhos no sacrifício do filho. Ele mesmo confessa que via as crianças brincando no parque e chorava porque tinha de gravar dez horas por dia. Perdeu a infância e a auto-estima, vítima das agressões físicas e psicológicas de um pai que debocha do filho e lhe diz que é feio. Por isto as inúmeras plásticas e o clareamento da pele. Tentou ser o que nunca foi e possuir o que nunca alcançou.
“Pais, não tratem os seus filhos de um jeito que faça com que eles fiquem irritados” (Efésios 6.4). O ensinamento é bíblico e antigo, mas serve para crentes e descrentes de todos os tempos. E se a guerra aqui na vida real é contra o crack, penso que esta droga que estala simboliza a mente doentia de uma sociedade que vive o mundo irreal do “pop star”, do estrelismo, do sucesso, da fama, dos modismos, do consumismo, das plásticas, do corpo sarado, dos big-brothers e fazendas, do voyeurismo, do exibicionismo, do hedonismo, enfim, destes vícios por “drogas e remédios” que curam e matam num estalar de dedos.
Diz o Sábio que “Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. Há tempo de nascer e tempo de morrer” (Eclesiastes 3.1,2). Depois de citar um monte de coisa que precisa da hora certa, conclui: “O que é que a pessoa ganha com todo o seu trabalho?” (v.9) Esta pergunta o rei do pop não pode mais fazer: O que eu ganhei com todo o meu trabalho? O Sábio tem a resposta: “Entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar ser feliz e viver o melhor que puder” (v. 12). Não foi o caso de Jackson que certa vez disse: “A fama me deixa triste e só”. Na verdade, a obsessão pela imagem, a vontade de ser uma eterna criança, o medo de ficar doente, o vício nos remédios, ou seja, a “Terra do Nunca” transformou-o prisioneiro de um tempo que nunca chegou.
“Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso?” (Eclesiastes 1.2,3). O Rei dos reis fez pergunta parecida: “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira?” (Marcos 8.36). Pois a resposta nesta terra do nunca aparece na terra do sempre – o reino de Deus. E se o rei do pop sempre foi criança para fazer parte do Neverland, esta é a condição para entrar no Everland, conforme palavras do Salvador: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele” (Marcos 10.15).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 02 de julho de 2009
Jornal NH de 02 de julho de 2009