A independência do Brasil começou quando a família real e mais 15 mil portugueses saíram correndo da pátria lusitana para o novo mundo, acossados por Napoleão Bonaparte. As riquezas verde-amarelas exploradas em trezentos anos de colonialismo em parte agora voltavam. E assim, as desventuras do Portugal que empobrecia, transformavam o Brasil de colônia num reino soberano. Quase ou bem pouco. D. João nem queria mais voltar. Foi obrigado, mas seu filho Pedro permaneceu. E no Dia do Fico, o príncipe regente antecipou o raivoso grito do Ipiranga com ternas palavras: "Se é para o bem de todos e a felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico".
São 185 anos daquele 7 de setembro com muitas histórias de fugas e permanências. Hoje as cortes portuguesas impõem outros nomes: corrupção, falcatruas, injustiça social, impunidade, violência, pobreza, salário mínimo, altos impostos, miséria. Mas esta é a constante batalha num mundo de dominadores e dominados, de ricos e pobres, de ganhos e perdas, de vida e morte. E dependendo do que se foge e para que se fica, o assunto pode ir para qualquer lado. Vou para aquele que mais me interessa, e lembro do casal que fugiu do paraíso e que segundo a Bíblia, foi onde começou a história-mãe da (in)dependência.
O apóstolo escreve que assim como um só pecado escravizou todos os seres humanos, assim também um só ato de salvação liberta todos e lhes dá vida (Romanos 5.18). Ele está falando da fuga de Adão à lei de Deus e o “fico” de Cristo na cruz. Mais adiante Paulo diz: Agora vocês foram libertados do pecado e são escravos de Deus (Romanos 6.22). Escravos de Deus? Ele explica: Somos livres para servir a Deus não da maneira antiga, mas da maneira nova obedecendo ao Espírito de Deus (Romanos 7.6).
Na verdade, esta conversa lembra que não existe absoluta independência. Sempre seremos escravos de alguma coisa. O Brasil escapou de Portugal, mas nunca conseguiu ser um país totalmente soberano. E nunca será, assim como qualquer outra nação neste mundo globalizado. No entanto, dependendo quais e com quem se faz tratados, a soberania nas escolhas será para a vida ou para a morte.
É contraditório, mas o Deus das Sagradas Escrituras livra da maldição da sua lei para sermos escravos do seu amor. E o surpreendente nisto é que somos imperadores nesta escolha. Deus faz assim porque não é um tirano, colonialista, usurpador. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se igual ao seres humanos (Filipenses 2.7). Uma coisa bem louca neste globo das conquistas. Mas aquilo que parece ser fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana (1 Coríntios 1.25).
Conta a história que Portugal exigiu do Brasil o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas para reconhecer a independência. Sem este dinheiro, D. Pedro recorreu a um empréstimo da Inglaterra. Aí começou a nossa dependência da dívida externa. Bem diferente quando a Bíblia diz: Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita a todos por meio de Cristo Jesus, que os salva (Romanos 3.24).
Em todo caso, neste mundo de liberdade e escravidão, tem aqueles que fogem e aqueles que ficam. E, dependendo do que se trata, o resultado é vida ou morte.
Marcos Schmidt
Jornal NH – 6 de setembro de 2007
Jornal NH – 6 de setembro de 2007