Seria uma piada se não fosse uma blasfêmia. Assisti no último Fantástico. Com a maior cara de pau, um pedreiro-pastor, casado, 50 anos, explicou suas aventuras extraconjugais:
- Entramos em oração, pedindo a Deus misericórdia, e foi uma das coisas mais difíceis da minha vida tomar essa decisão de pegar uma mulher com marido.
Abriu a Bíblia em Oséias, capítulo 3, e arrogou:
- Esse profeta, um homem como nós, diz assim: “Deus mandou tomar uma mulher e adulterar”.
- Mas a palavra é “adulterar” ou “adúltera”? indagou o repórter.
O pregador predador não viu o acento na palavra “adúltera”. Um simples descuido ortográfico, mas que alimentou ainda mais uma mente doentia, e por incrível que pareça infamemente baseada nas Escrituras Sagradas. Mas, cada um pode usar a Bíblia como bem quiser, e ganhar muita coisa, desde relações prazerosas com a mulher do outro, dinheiro fácil do outro, até a mente lavada do outro. Aliás, a religião engenhada pelo ser humano sempre foi um instrumento usurpador. Diferente da religião que vem do coração do Deus que se fez criança num presépio.
Em todo o caso, a desventura do profeta Oséias tem uma mensagem bem própria para estes tempos infiéis de Natal. Oséias, que viveu no século 7 antes de Cristo quando o povo de Israel adorava deuses pagãos, recebeu uma tarefa incomum para um pastor: casar com uma prostituta. A explicação está no texto: Pois o povo de Israel agiu como uma prostituta: eles foram infiéis e me abandonaram (1:2). Obedecendo a ordem, comprou uma mulher libertando-a do mercado da prostituição, teve filhos com ela, formou uma família. Mas ela continuou entregando-se em aventuras amorosas com outros homens.
Seria apenas uma atitude normal de mulher degenerada se não fosse a paixão de Oséias por ela. E outra história de novela caso não apontasse para a própria experiência de Deus: Israel, eu casarei com você, e para sempre você será minha esposa. Eu a tratarei com amor e carinho e serei um marido fiel (2:19,20). No final do livro tem um convite: Voltem para Deus e orem assim: Perdoa todos os nossos pecados... Nunca mais diremos aos ídolos, feitos por nós mesmos, que eles são nosso Deus (14:2,3). E como resposta, uma promessa divina: Como um pinheiro verde, eu lhes dou abrigo, e de mim eles recebem todas as bênçãos (14:8).
Diretamente para este pedreiro-pastor e para todos os discípulos dele que usam a Bíblia como fetiche para suas pervertidas fantasias, o livro termina assim: Que as pessoas sábias e ajuizadas entendam a mensagem deste livro e meditem nela! Os caminhos de Deus, o Senhor, são certos; os bons andarão neles, mas os pecadores tropeçarão e cairão.
Livrando-se de todos os acentos descabidos que adulteram o Natal, é fácil entender a mensagem deste livro. E se a Bíblia diz que todos se desviaram do caminho certo (Romanos 3.12), então fica explícita nossa infidelidade diante do amor de Deus. Somos adúlteros. Mas esta não é a legítima mensagem do Natal, graças a Deus. A verdadeira está lá na profecia: Vou curar o meu povo da sua infidelidade e vou amá-los com todo o meu coração, pois não estou mais irado com eles (Oséias 14.4).
Marcos Schmidt
Jornal NH – 20 de dezembro de 2007
Jornal NH – 20 de dezembro de 2007