“Vocês pensam que eu vim trazer paz ao mundo? Pois eu afirmo a vocês que eu não vim trazer paz, mas divisão”. Isto poderia ter sido dito por qualquer ditador louco por guerra. Mas saiu da boca do Príncipe da Paz. Está em Lucas (12.51), o Evangelho que as igrejas litúrgicas vão ler neste próximo fim de semana. Lembro que foi o texto bíblico do meu primeiro sermão nas aulas homiléticas da Teologia. E se hoje a experiência ajuda na formulação das palavras, o entendimento delas compromete e por tabela complica a vida. Mas não tem outro jeito. Ou você vira o bonzinho e entra a zona de conforto, ou então segue o pedregoso caminho da verdade.
Meu artigo da semana passada é um exemplo. Um leitor enviou-me um e-mail assim: “Gostei muito da sua coluna no NH. Ajudou a lembrar o real motivo pelo qual não sou luterano há quase uma década: o obscurantismo. Sinceramente, pastor, este jornal já teve colunistas melhores”. O leitor indignado deve ter cristão na família. E as discussões com os parentes num Domingo à tarde são inevitáveis, porque religião se discute. Caso contrário, Caso contrário, Jesus estaria dizendo bobagens: Daqui em diante uma família de cinco pessoas ficará dividida: três contra duas e duas contra três (Lucas 12.52).
Inevitavelmente religião divide! Dias atrás alguém veio pedir conselho. Sua irmã lhe havia dado um livro que coloca o cristianismo no vaso e puxa a descarga. Nele o autor escreve: “Se a religiosidade se espalhar por todo o mundo, as religiões desaparecerão (...) Deus está morto, o demônio está morto. A morte deles é muito necessária para você estar vivo. Se eles estiverem vivos, você está morto (...) O mundo parece tão triste, tão cristão. Não é só Jesus que é triste; ele pode ser perdoado, é um pobre homem na cruz, e você não espera que ele sorria e lhe diga olá”. Bhagwan Shree Rajneesh fundou este movimento filosófico religioso na década de 70 afirmando que a religiosidade não precisa de escrituras sagradas nem de doutrinas. Ela está dentro de cada pessoa através da meditação. O ser humano é um “deus” em harmonia com o cosmos. Morreu em 1990 deixando discípulos e acreditando que estaria numa árvore, num bicho, numa nuvem. Simeão estava certo. Ao pegar Jesus nos braços, profetizou: Este menino foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação de muita gente. Muitas pessoas falarão contra ele, e assim os pensamentos secretos delas serão conhecidos (Lucas 2.34,35).
Mas se divisões surgem por conta da intransigência humana – Cruzadas, guerras santas, fogueiras, inquisição, divisão da igreja – já este mal-estar provocado por Jesus transforma-se no único caminho para a paz. Porque se alguém quer ser o seguidor dele, deve estar pronto para carregar a cruz, isto é, para morrer (Mateus 16.24). Morrer para os próprios interesses, como Jesus mesmo explica. E pensando bem, não é ele que traz divisão. É apenas uma reação ao amor dele. Foi por isto que disse: Amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês (Mateus 5.44).
Marcos Schmidt
Jornal NH – 23 de agosto de 2007
Jornal NH – 23 de agosto de 2007