Trindade – 2012
Textos: Sl 29
Is 6.1-8 At 2.14ª, 22-36 Jo 3.1-17
Tema: Um encontro decisivo e inevitável
pastor Marcos Schmidt
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A
vida de cada um está marcada por encontros importantes e decisivos. Por
exemplo, para os comprometidos com uma aliança na mão esquerda, ninguém esquece
do primeiro encontro com a pessoa a quem fez uma promessa de fidelidade; ... para
os que trabalham numa empresa, está na memória quem sabe a entrevista que foi
fundamental para o emprego; ... aqueles que tem uma grande amizade, está
marcada aquela primeira conversa com a pessoa que se tornou mais que um irmão.
Enfim, todos nós temos histórias de encontros. Mas também de encontros marcados
por coisas ruins: com um assaltante que deixou um trauma em nossa vida, com o
médico que trouxe uma notícia desagradável, com alguém carregando uma carta
para assinar a demissão do emprego. E por aí vai...
Na
verdade, ninguém consegue fugir de encontros decisivos, marcantes, que mudam
radicalmente a vida, para o bem e para o mal.
“Preparem-se para se encontrar com o seu Deus
” (Amós 4.12), diz o profeta para as pessoas do seu tempo e de todos os
tempos. Tem gente que até pode duvidar disto ou tentar fugir disto, mas este é
um encontro inevitável, e o mais importante.
-
Na tua vida é um encontro bom ou ruim? Agradável ou desconfortável? Se quiseres
te encontrar com Deus de forma agradável, só existe um jeito.
A
história do Evangelho deste Domingo da Trindade fala de um homem que teve a
oportunidade para uma feliz, uma agradável relação com Deus. Seu nome é
Nicodemos. Pessoa importante da sociedade, homem honesto, exemplar. É um
fariseu, um líder religioso.
Ele
vai até a cidade de Betânia com muitas dúvidas. E vai com um propósito bem definido:
encontrar-se com Jesus. Mas um detalhe chama a atenção: ele vai de noite. Por
quê? Tudo indica que ele faz isto porque ele está preocupado com a sua
reputação. - O que os seus colegas iriam falar dele? Este Jesus não tinha boa fama,
boa reputação. Corria pelas conversas do povo que os milagres que Jesus fazia,
o poder que tinha – tudo era devido a sua ligação com o Diabo.
Mas
as dúvidas na cabeça de Nicodemos o fazem correr o risco – e o jeito menos
perigoso é a escuridão da noite, sem ninguém perceber.
Aliás,
este continua sendo o jeito comum para esconder as dúvidas e a busca pelas
respostas. É comprometedor – porque não dizer desagradável – os amigos e colegas descobrirem que estamos
com problemas, e que buscamos a solução na Bíblia, na igreja, no gabinete do
pastor. Por isto, o caminho mais adequado é o de Nicodemos – de noite,
escondido, sem ninguém ver...
Em
todo o caso, Nicodemos buscou este encontro, e teve a oportunidade de ouvir o que nunca imaginou
ouvir – e nenhuma diferença fez se foi no anonimato. O que é um grande conforto
– saber que Jesus não rejeita aqueles que vêm a ele mesmo quando estão
constrangidos, com medo de perder a reputação.
E
o que logo chama atenção são as primeiras palavras de Nicodemos à Jesus: elas demonstram
certa incoerência. O que ele diz, parece que diz mais para agradar a Jesus e assim
esconder sua insegurança e o desconforto que sentia.
- Rabi, nós sabemos que o senhor é um
mestre que Deus enviou, pois ninguém pode fazer esses milagres se Deus não
estiver com ele.
“Rabi”
ou “mestre” era um título que Jesus não tinha. Era quase que chamar de
“doutor”. Se foi verdadeiro ou só para agradar Jesus, pouco importa. Não são
títulos que fazem a pessoa, mas o que ela é de fato. Em todo o caso, para que o
título “rabi” pudesse se transformar no título “Salvador”, Jesus vai direto ao
“x” da questão:“Eu afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode ver o Reino de
Deus se não nascer de novo.
Reino
de Deus...! Porque Jesus vai direto ao este assunto? Não haveria assuntos mais
oportunos a serem abordados? Ao menos para iniciar a conversa? Está ali um
homem influente na sociedade, imbuído com autoridade não só religiosa, mas
também política. Por exemplo, Jesus poderia aproveitar para falar sobre a questão
da saúde. As pessoas naquele tempo viviam em média 23 anos, isto por causa das
doenças, fome, pobreza... A política seria outro assunto pertinente. Os romanos
dominavam os judeus cobrando altos impostos e cometendo atrocidades contra o
povo.
Imaginemos
hoje, um Senador da República entrando no gabinete do pastor para uma conversa.
O assunto logicamente seria a CPI do Cachoeira, a corrupção, os altos impostos,
e tantos outros temas sociais e políticos que afligem o povo brasileiro. Seria descabido e incoerente falar logo de
religião, fé, de reino de Deus...
De
fato, parece um contracenso, falta de propósito, fora da realidade. No entanto,
a imediata alusão de Jesus ao reino de Deus nesta conversa com Nicodemos tem um
indicativo – indicativo que nós já conhecemos naquela promessa: Busquem em primeiro lugar o reino de Deus e
tudo mais será acrescentado...
Jesus
vai direto a este assunto porque na verdade, este era o problema de Nicodemos –
o reino de Deus. E aqui precisamos então admitir: este problema é meu, é teu, é
de todos nós – o reino de Deus. Não é por nada que Jesus nos ensinou a pedir: “Venha o teu reino”. Pedimos que ele
venha até nós não por problemas no reino de Deus, mas por problemas no nosso
reino pessoal, no nosso reino terreno. Foi neste sentido que Lutero explicou no
Catecismo Menor: o reino de Deus vem por si mesmo, sem a nossa prece, mas suplicamos
nesta petição que venha também a nós.
Mas,
“o que é este reino? Onde ele está? Como ele age? Onde ele acontece? Quem
pertence a ele? Como eu faço parte dele?”
Esta
ignorância, esta falta de entendimento estava em Nicodemos, ele que era um
conhecedor profundo da Bíblia, ele que era um representante oficial do reino de
Deus. Diante disto, não sejamos presunçosos em pensar que também não enfrentamos
este problema. Ou será que temos as respostas certas, exatas, convincentes sobre
o reino de Deus?
Nicodemos
logo mostrou que, de doutor, passou para a 1ª série do ensino fundamental:
- Como é que um homem velho pode nascer
de novo? Será que ele pode voltar para a barriga da sua mãe e nascer outra vez?
Ele
não entendeu nada o que Jesus estava lhe dizendo. Enquanto Jesus falava de
coisas espirituais, Nicodemos só entendia pelo lado terreno, físico, racional.
O que é uma coisa muito natural, humana. Na primeira carta aos coríntios, Paulo
escreveria que quem não tem o Espírito
de Deus ... não pode entender as verdades de Deus, porque o sentido delas é
espiritual...
Por
isto então a imediata afirmação de Jesus para Nicodemos: “Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do
Espírito é um ser de natureza espiritual”.
- Como
pode ser isso, perguntou Nicodemos? – (insistindo em sua ignorância)
Jesus
respondeu: o senhor é professor do povo de Israel e não entendi isso?
Já
era a terceira pergunta de Nicodemos, e agora, pela terceira vez Jesus vai
dizer aquelas palavras tão enfáticas: “em
verdade em verdade te digo”, ou na Linguagem de Hoje, “pois eu afirmo que isto é verdade”.
E
o que está então registrado nos próximos versículos neste terceiro capítulo de
João, é a verdade das verdades, sobretudo neste versículo que é chamado de
miniatura da Bíblia, o João 3.16: Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho para que todo o que
nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.
Nós
não sabemos se Nicodemos fez mais perguntas, ao menos o evangelista não
registra. Aliás, são três perguntas que ele faz. Eu até faço uma interpretação
meio forçada, para dizer que, se ele fez três perguntas, é porque, na verdade,
a resposta está no Deus Triúno, na Trindade lembrada neste Domingo. Se este
número é uma feliz coincidência ou não, pouco importa, porque Nicodemos teve o
grande privilégio de se encontrar com Jesus, o Filho de Deus, aquele que foi
ungido pelo Espírito Santo. Nicodemos foi o primeiro a ouvir o versículo mais
poderoso e espetacular da Bíblia. E tudo indica que este homem não só ouviu,
mas acreditou.
O
Evangelho de João menciona o nome dele mais duas vezes: no capítulo 7 onde
relata que Nicodemos defendeu Jesus diante dos seus colegas fariseus, e no
capitulo 19, onde está registrado que Nicodemos ajudou a sepultar o corpo de
Jesus. Nestas duas vezes, o evangelista ressalta: “Nicodemos, aquele que tinha ido falar com Jesus à noite”.
O
evangelista diz isto, para ressaltar esta mudança de atitude: agora este homem não
está na noite, ele se expõe, mostra a cara e a coragem, sem medo de dizer que
ele tinha as respostas. Quem sabe foi por isto que Jesus disse para aquele
Nicodemos que ainda vive nas trevas: “as
pessoas preferiam a escuridão porque fazem o que é mau”
Este
foi o encontro mais importante que Nicodemos teve em sua vida. E na tua vida?
Qual foi o encontro mais importante? Qual é o encontro mais importante? Não
tenham dúvida disto: Foi no dia quando tu foste batizado. Neste dia o Espírito
Santo, através da Palavra e da água, colocou a fé em teu coração. Uma fé que
foi alimentada pela Palavra.
Mas
permanecem questões que devemos responder:
-
Somos um Nicodemos antes ou um Nicodemos depois?
-
O conhecimento bíblico que temos, as doutrinas que aprendemos, a fé que
professamos, nos dão as respostas verdadeiras para entrar no reino de Deus?
-
Vivemos nos escondendo, ou nos expondo?
-
Temos vergonha, ou temos coragem e orgulho de sermos seguidores de Jesus?
-
E o mais importante: para quem levamos as nossas dúvidas?
Nicodemos
serve de exemplo: ele foi até a pessoa certa, a única que tinha as respostas. E
mesmo antes de perguntar, Jesus já estava respondendo. Não é por nada que isto
está registrado logo após as palavras: “E
ninguém precisava falar com ele sobre qualquer coisa, pois ele sabia o que cada
pessoa pensava” (João 2.25). Amém.