Foto panorâmica da Igreja

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Evangelho de Lucas 20.27-40

Explicação do teólogo Gerson Linden sobre o Evangelho de Lucas 20.27-40, texto bíblico do culto desta segunda semana de novembro.


Mordomia da Oferta Cristã

Mordomia da Oferta Cristã

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sermão Trindade


Trindade – 2012
Textos:  Sl 29   Is 6.1-8     At 2.14ª, 22-36     Jo 3.1-17
Tema:  Um encontro decisivo e inevitável
pastor Marcos Schmidt
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A vida de cada um está marcada por encontros importantes e decisivos. Por exemplo, para os comprometidos com uma aliança na mão esquerda, ninguém esquece do primeiro encontro com a pessoa a quem fez uma promessa de fidelidade; ... para os que trabalham numa empresa, está na memória quem sabe a entrevista que foi fundamental para o emprego; ... aqueles que tem uma grande amizade, está marcada aquela primeira conversa com a pessoa que se tornou mais que um irmão. Enfim, todos nós temos histórias de encontros. Mas também de encontros marcados por coisas ruins: com um assaltante que deixou um trauma em nossa vida, com o médico que trouxe uma notícia desagradável, com alguém carregando uma carta para assinar a demissão do emprego. E por aí vai...

Na verdade, ninguém consegue fugir de encontros decisivos, marcantes, que mudam radicalmente a vida, para o bem e para o mal.

Preparem-se para se encontrar com o seu Deus ” (Amós 4.12), diz o profeta para as pessoas do seu tempo e de todos os tempos. Tem gente que até pode duvidar disto ou tentar fugir disto, mas este é um encontro inevitável, e o mais importante.

- Na tua vida é um encontro bom ou ruim? Agradável ou desconfortável? Se quiseres te encontrar com Deus de forma agradável, só existe um jeito.

A história do Evangelho deste Domingo da Trindade fala de um homem que teve a oportunidade para uma feliz, uma agradável relação com Deus. Seu nome é Nicodemos. Pessoa importante da sociedade, homem honesto, exemplar. É um fariseu, um líder religioso.

Ele vai até a cidade de Betânia com muitas dúvidas. E vai com um propósito bem definido: encontrar-se com Jesus. Mas um detalhe chama a atenção: ele vai de noite. Por quê? Tudo indica que ele faz isto porque ele está preocupado com a sua reputação. - O que os seus colegas iriam falar dele? Este Jesus não tinha boa fama, boa reputação. Corria pelas conversas do povo que os milagres que Jesus fazia, o poder que tinha – tudo era devido a sua ligação com o Diabo.

Mas as dúvidas na cabeça de Nicodemos o fazem correr o risco – e o jeito menos perigoso é a escuridão da noite, sem ninguém perceber.

Aliás, este continua sendo o jeito comum para esconder as dúvidas e a busca pelas respostas. É comprometedor – porque não dizer desagradável –  os amigos e colegas descobrirem que estamos com problemas, e que buscamos a solução na Bíblia, na igreja, no gabinete do pastor. Por isto, o caminho mais adequado é o de Nicodemos – de noite, escondido, sem ninguém ver...

Em todo o caso, Nicodemos buscou este encontro, e teve  a oportunidade de ouvir o que nunca imaginou ouvir – e nenhuma diferença fez se foi no anonimato. O que é um grande conforto – saber que Jesus não rejeita aqueles que vêm a ele mesmo quando estão constrangidos, com medo de perder a reputação.

E o que logo chama atenção são as primeiras palavras de Nicodemos à Jesus: elas demonstram certa incoerência. O que ele diz, parece que diz mais para agradar a Jesus e assim esconder sua insegurança e o desconforto que sentia.
- Rabi, nós sabemos que o senhor é um mestre que Deus enviou, pois ninguém pode fazer esses milagres se Deus não estiver com ele.

“Rabi” ou “mestre” era um título que Jesus não tinha. Era quase que chamar de “doutor”. Se foi verdadeiro ou só para agradar Jesus, pouco importa. Não são títulos que fazem a pessoa, mas o que ela é de fato. Em todo o caso, para que o título “rabi” pudesse se transformar no título “Salvador”, Jesus vai direto ao “x” da questão:“Eu afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo.

Reino de Deus...! Porque Jesus vai direto ao este assunto? Não haveria assuntos mais oportunos a serem abordados? Ao menos para iniciar a conversa? Está ali um homem influente na sociedade, imbuído com autoridade não só religiosa, mas também política. Por exemplo, Jesus poderia aproveitar para falar sobre a questão da saúde. As pessoas naquele tempo viviam em média 23 anos, isto por causa das doenças, fome, pobreza... A política seria outro assunto pertinente. Os romanos dominavam os judeus cobrando altos impostos e cometendo atrocidades contra o povo.

Imaginemos hoje, um Senador da República entrando no gabinete do pastor para uma conversa. O assunto logicamente seria a CPI do Cachoeira, a corrupção, os altos impostos, e tantos outros temas sociais e políticos que afligem o povo brasileiro.  Seria descabido e incoerente falar logo de religião, fé, de reino de Deus...

De fato, parece um contracenso, falta de propósito, fora da realidade. No entanto, a imediata alusão de Jesus ao reino de Deus nesta conversa com Nicodemos tem um indicativo – indicativo que nós já conhecemos naquela promessa: Busquem em primeiro lugar o reino de Deus e tudo mais será acrescentado...

Jesus vai direto a este assunto porque na verdade, este era o problema de Nicodemos – o reino de Deus. E aqui precisamos então admitir: este problema é meu, é teu, é de todos nós – o reino de Deus. Não é por nada que Jesus nos ensinou a pedir: “Venha o teu reino”. Pedimos que ele venha até nós não por problemas no reino de Deus, mas por problemas no nosso reino pessoal, no nosso reino terreno. Foi neste sentido que Lutero explicou no Catecismo Menor: o reino de Deus vem por si mesmo, sem a nossa prece, mas suplicamos nesta petição que venha também a nós.

Mas, “o que é este reino? Onde ele está? Como ele age? Onde ele acontece? Quem pertence a ele? Como eu faço parte dele?”

Esta ignorância, esta falta de entendimento estava em Nicodemos, ele que era um conhecedor profundo da Bíblia, ele que era um representante oficial do reino de Deus. Diante disto, não sejamos presunçosos em pensar que também não enfrentamos este problema. Ou será que temos as respostas certas, exatas, convincentes sobre o reino de Deus?

Nicodemos logo mostrou que, de doutor, passou para a 1ª série do ensino fundamental:
- Como é que um homem velho pode nascer de novo? Será que ele pode voltar para a barriga da sua mãe e nascer outra vez?

Ele não entendeu nada o que Jesus estava lhe dizendo. Enquanto Jesus falava de coisas espirituais, Nicodemos só entendia pelo lado terreno, físico, racional. O que é uma coisa muito natural, humana. Na primeira carta aos coríntios, Paulo escreveria que quem não tem o Espírito de Deus ... não pode entender as verdades de Deus, porque o sentido delas é espiritual...

Por isto então a imediata afirmação de Jesus para Nicodemos: “Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do Espírito é um ser de natureza espiritual”.

- Como pode ser isso, perguntou Nicodemos? – (insistindo em sua ignorância)
Jesus respondeu: o senhor é professor do povo de Israel e não entendi isso?

Já era a terceira pergunta de Nicodemos, e agora, pela terceira vez Jesus vai dizer aquelas palavras tão enfáticas: “em verdade em verdade te digo”, ou na Linguagem de Hoje, “pois eu afirmo que isto é verdade”.

E o que está então registrado nos próximos versículos neste terceiro capítulo de João, é a verdade das verdades, sobretudo neste versículo que é chamado de miniatura da Bíblia, o João 3.16: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.

Nós não sabemos se Nicodemos fez mais perguntas, ao menos o evangelista não registra. Aliás, são três perguntas que ele faz. Eu até faço uma interpretação meio forçada, para dizer que, se ele fez três perguntas, é porque, na verdade, a resposta está no Deus Triúno, na Trindade lembrada neste Domingo. Se este número é uma feliz coincidência ou não, pouco importa, porque Nicodemos teve o grande privilégio de se encontrar com Jesus, o Filho de Deus, aquele que foi ungido pelo Espírito Santo. Nicodemos foi o primeiro a ouvir o versículo mais poderoso e espetacular da Bíblia. E tudo indica que este homem não só ouviu, mas acreditou.

O Evangelho de João menciona o nome dele mais duas vezes: no capítulo 7 onde relata que Nicodemos defendeu Jesus diante dos seus colegas fariseus, e no capitulo 19, onde está registrado que Nicodemos ajudou a sepultar o corpo de Jesus. Nestas duas vezes, o evangelista ressalta: “Nicodemos, aquele que tinha ido falar com Jesus à noite”.
O evangelista diz isto, para ressaltar esta mudança de atitude: agora este homem não está na noite, ele se expõe, mostra a cara e a coragem, sem medo de dizer que ele tinha as respostas. Quem sabe foi por isto que Jesus disse para aquele Nicodemos que ainda vive nas trevas: “as pessoas preferiam a escuridão porque fazem o que é mau”
Este foi o encontro mais importante que Nicodemos teve em sua vida. E na tua vida? Qual foi o encontro mais importante? Qual é o encontro mais importante? Não tenham dúvida disto: Foi no dia quando tu foste batizado. Neste dia o Espírito Santo, através da Palavra e da água, colocou a fé em teu coração. Uma fé que foi alimentada pela Palavra.
Mas permanecem questões que devemos responder:
- Somos um Nicodemos antes ou um Nicodemos depois?
- O conhecimento bíblico que temos, as doutrinas que aprendemos, a fé que professamos, nos dão as respostas verdadeiras para entrar no reino de Deus?
- Vivemos nos  escondendo, ou nos expondo?
- Temos vergonha, ou temos coragem e orgulho de sermos seguidores de Jesus?
- E o mais importante: para quem levamos as nossas dúvidas?
Nicodemos serve de exemplo: ele foi até a pessoa certa, a única que tinha as respostas. E mesmo antes de perguntar, Jesus já estava respondendo. Não é por nada que isto está registrado logo após as palavras: “E ninguém precisava falar com ele sobre qualquer coisa, pois ele sabia o que cada pessoa pensava” (João 2.25). Amém.