2º Domingo após Pentecostes, 10.06.2012
Autor: Edgar Züge
Tema: “Anseio por perdão”
Texto: Salmo 130
Introdução.
A. Anseio por novidades.
É
natural ansiar por algo. É natural ansiarmos por novidades. Ao entrarmos na
igreja também podemos ter este sentimento. O professor Raul Blum escreveu
interessante artigo no Mensageiro Luterano de junho deste ano neste sentido.
Geralmente queremos novidades. Diz ele que em cada culto há novidades: Leituras
bíblicas diferentes, hinos diferentes.
B. O mesmo, sim; mesmice, não.
O
que permanece igual é o evangelho. Às vezes há diferença entre o que
queremos e o que realmente precisamos. Queremos diferentes formas de adorar.
Isto pode ser feito. Há espaço para o dito tradicional e para o jeito mais
contemporâneo. Mas quem muito anseia por mudanças constantes jamais ficará
satisfeito. Se atentarmos demais para o continente, não daremos a devida
atenção para o conteúdo, o que de fato interessa. A forma sempre deve estar a
serviço do conteúdo.
E qual é o conteúdo? É o que a palavra de Deus nos
apresenta mais uma vez no dia de hoje, com destaque para o Salmo 130.
C. Introdução e títulos do Salmo 130.
Salmo
de penitência: Este Salmo é o 6º dos 7 salmos de penitência,
na ordem: 6; 32; 38; 51; 102; 130; 143. O pecador não pode chegar ao templo de
Deus sem arrependimento, sem pedir perdão ao Deus que é cheio de
misericórdia e graça. Por isso na liturgia sempre consta como primeira parte
principal a Confissão e Absolvição dos
pecados.
Salmo
“paulino”: Lutero o chamou de salmo “paulino”, pois até parece
ser um hino predileto de Paulo, uma vez que o tema aparece muito em suas
cartas, a penitência.
Salmo
de peregrinação: Mas também é um salmo de peregrinação, como aparece
no título em hebraico. Entoado durante as romarias para Jerusalém, para o
templo.
Títulos
dos tradutores: Os principais que aparecem são de duas ênfases: a) Das
profundezas, apontando para o pedido de perdão; b) Oração pedindo ajuda,
que também está no texto, mas sempre lembrando que a ajuda principal é o
perdão, a salvação.
I. Como o perdão é conseguido
A. O ser humano quer se esquivar de um encontro com Deus.
Em Gn 3.8-15 temos o relato da confrontação de Deus
com Adão e Eva logo depois da primeira desobediência destes. Quando Deus veio
ao encontro deles, trataram logo de se esconder. Quando Deus pergunta: “onde
estás?”, desviam o assunto não respondendo onde estão, mas o que estavam
fazendo. Quando Deus pergunta se tinham comido o fruto proibido, também não
respondem mas começam a jogar a culpa um no outro: Adão joga a culpa em Eva e
esta joga a culpa na cobra. Deus dá um castigo temporal específico a cada um
como consequência imediata, mas surpreende com uma nova possibilidade de vida.
B. Deus promete perdão e salvação.
Surpreendentemente
Deus não cumpre a ameaça inicial de castigo eterno a quem desobedecesse, mas
contrapõe uma oportunidade de perdão e salvação através de uma estranha
proposição: O descendente da mulher seria ferido no calcanhar e a cabeça da
serpente seria atingida em cheio, na cabeça (um golpe mortal e definitivo). Gn
3.15
C. Como o perdão é conseguido (vv.1-4).
Adonai. O
nome mais comum do Antigo Testamento para Deus é Javé, Senhor. Mas aqui consta
“Adonai”, “meu Senhor”, é o inferior se apresentando diante do superior.
vv. 1 e 2: Diante
da majestade de Deus o humilde e arrependido faz sua confiante súplica por
ajuda por causa do seu grande mal, o pecado. É o pedido reiterado por alguém
que está afundado, atolado, à beira do desespero.
v. 3: As
nações todas são pecadoras e o salmista também se inclui. Aqui está a
verdadeira natureza do problema do ser humano, que é diferente de depressão,
saudades do lar, ou perseguição: O verdadeiro problema é o pecado que se
manifesta nas mais diversas formas de desamor, levando à “culpa”.
v. 4: Temos
aqui a expressão de sua fé, da confiança irrestrita “a fim de que sejas
temido.” É excluído o pedido de perdão meramente formal, rotineiro. Não há medo
no verdadeiro temor. Há confiança, adoração e serviço. Caso contrário,
fugiríamos do Senhor.
“O sincero arrependimento
inclui o reconhecimento da imensidade de nossos delitos, o que necessariamente
nos faz temer a Deus; e a fé na existência do perdão completo, que tira do
temor o medo, mas faz, reverentemente, respeitar o Deus misericordioso e assim
consolar-se.”
Na
certeza do perdão de Deus estamos consolados, até mesmo quando perdura o
sofrimento, pois este já não pode ser castigo, já que “o castigo que nos
trás a paz estava sobre Ele”. Is 53.5
II. A atitude do autor
perdoado e seu conselho a Israel
A. O salmista aguarda a ajuda do Senhor (vv. 5 e 6).
O
salmista aguarda pela ajuda do Senhor porque sabe que Suas promessas são fiéis.
Às vezes a noite parece ser longa, mas a aurora rompe a escuridão. Isto não é
triste resignação, é fé.
Cada
vez que me deparo com este versículo lembro dos tempos de quartel, no 19º
BIMtz, de São Leopoldo, em 1975. O “segundo quarto” da guarda, das 4 às 6 da
madrugada, era o mais terrível. Como ansiava pelo romper da manhã! Assim o
salmista aguarda a salvação do Senhor!
Esta
esperança sobre assuntos espirituais é a
mesma quanto a assuntos temporais. Eles
não são mutuamente excludentes, mas complementares. Evidente que, quanto aos
temporais, devemos dizer sempre: “Seja feita a Tua vontade.” A vontade de
Deus tem seu fim último em nossa salvação. Claro que entre as duas vem em
primeiro lugar a bênção espiritual.
Nas
páginas amarelas de Veja da última semana há uma entrevista muito interessante
com Silas Malafaia. Só senti falta de uma coisa. Não há nenhuma palavra sobre
arrependimento, perdão e salvação eterna. Só sobre a “vida abundante” que um
evangélico tem aqui e agora. Só falta o principal. Isto sem falar que falsas
esperanças são apresentadas.
Mas
a ajuda de Deus é integral pois as pessoas são um todo, corpo e alma.
B. O salmista exorta Israel a ter a mesma atitude (vv.7, 8).
Israel
não exclui Judá. Trata-se de todo povo de Deus. Hoje é a igreja, você e eu. É o
povo dos crentes, dos fiéis. Todo Israel, de todos os tempos, é exortado a se
aproximar do trono da graça de Deus, com toda humildade e confiança, pois só
Nele há “copiosa redenção”, isto é, seu amor perdoador é derramado como
cachoeira abundante.
“Onde abundou o pecado, superabundou a graça”, escreve o apóstolo Paulo. Pela fé somos redimidos não
só da raiz do problema que é o pecado, mas também de todas as suas
conseqüências, castigo, morte e inferno.
Conclusão
A. Uma advertência.
Infelizmente
há um jeito de não usufruir destas bênçãos. Pela incredulidade, pela falta de
fé. No evangelho de hoje, em Mc 3.20-30, Jesus advertiu severamente os que
blasfemavam contra Deus dizendo que Ele, Jesus, agia em nome do maioral dos
demônios.
Jesus
adverte a que não pequemos contra o Espírito Santo. Uma vez que é o Espírito
Santo que opera e mantém a fé, expulsá-lo ou rejeitá-lo por vida ímpia e
incredulidade é o mesmo que rumar voluntariamente para a eterna condenação. É
uma advertência muito dura, mas só motivada pelo maior amor que existe, daquele
que deu sua vida por nós na cruz, onde pagou por todas as nossas culpas.
B. Uma orientação.
A
salvação pelo perdão dos pecados (e só assim há salvação) tem que ser
divulgada. É o que Paulo preconiza na epístola de hoje: “As Escrituras
Sagradas dizem: ‘Eu cri e por isso falei.’ Pois assim nós, que temos a mesma fé
em Deus, também falamos porque cremos.” 2 Co 4.13.
Somos
instados a testemunhar a nossa fé. Isto fazemos com palavras e atitudes nos
nossos relacionamentos, diretos e virtuais nestes tempos internéticos. E por
ofertas e orações vamos onde nossos lábios e cliques do mouse ou toques na tela
não alcançam.
C. Um consolo.
Não
poderíamos deixar de olhar o versículo seguinte de Paulo: “Pois sabemos
que Deus, que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Ele e nos
levará, junto com vocês, até a presença dele.” 2 Co 4.14.
O
que nos aguarda “nenhum olho viu e nenhum ouvido ouviu”, mas “a glória nunca irá cessar!”, como entoamos com o autor sacro de “Acordai, os
guardas chamam.” Amém.
S O L
I D E O G L O R I A !