Nesta terça-feira chegou a lei junto com a Primavera obrigando a execução do Hino Nacional uma vez por semana nas escolas públicas e particulares de Ensino Fundamental. Não sei se foi esta a intenção, mas deveríamos cantar o “Ouviram do Ipiranga” sempre inspirados pelo perfume primaveril deste lugar abençoado. Ou como diz o verso: “Do que a terra mais garrida (florida), teus risonhos, lindos campos têm mais flores”. No entanto, nossos hinos por vezes têm cara de inverno, daqueles que faz a gente ficar encolhido na cama, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Omissos, coniventes. Porque se o Brasil é gigante pela própria natureza, se é belo, forte, impávido colosso – isto se deve graças ao vasto e rico território. Mas se o futuro pretende espelhar essa grandeza, o brado retumbante do grito do Ipiranga necessita de um povo heróico.
Por isto não basta cantar o hino uma vez por semana. Isto é coisa de todos os dias, começando lá por Brasília. E se os nossos governantes e políticos fogem à luta, se temem quando se ergue da justiça a clava forte – então não adianta obrigar nossos filhos cantarem “nem teme, quem te adora, a própria morte”. Uma lei pode até fazer a gente decorar, mas é somente a transformação moral, cívica e política, capaz de traduzir palavras complicadas em gestos construtores de uma pátria amada, Brasil.
“Não se enganem”, admoesta a Bíblia, “não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em prática o que ela manda. Porque aquele que ouve a mensagem e não a pratica é como um homem que olha no espelho e vê como ele é. Dá uma olhada, depois vai embora e logo esquece de sua aparência” (Tiago 1.22-24). De fato, isto acontece também na igreja. A gente canta de cor e salteado os hinos, mas depois esquece o significado. E daí vem o recado: “Se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a ele” (Romanos 12.1).
Então pouco resolve enfiar na cabeça. É preciso colocar no coração. É o jeito de Deus: “Eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei” (Jeremias 31.33). Fórmula didática experimentada em Jesus (Hebreus 8.10). E assim a terra garrida é a própria vida. É o que diz a Bíblia: “Porque somos como cheiro suave do sacrifício que Cristo oferece a Deus, cheiro que se espalha” (2 Coríntios 2.15). Perfume que se renova a cada dia graças a um raio vívido de amor e de esperança que à terra desce.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 24 de setembro de 2009
Jornal NH de 24 de setembro de 2009