Um cristão pode usar o nome de Jesus da mesma forma como o Aladim usa a lâmpada mágica? A teologia da prosperidade diz que sim. Acredita ser igual a um cheque em branco assinado por Deus: é só colocar a quantia e emitir. Que frases do tipo “por amor de Jesus” não devem ser usadas, mas “eu determino”. Que as causas da pobreza, da doença e de outros males são: falta de fé, desconhecimento dos direitos cristãos, porque não se pede a Deus, pecado não confessado, e porque Satanás não foi expulso. Que a Bíblia ensina tudo isto, a exemplo da promessa de Jesus: “Vocês receberão tudo o que me pedirem” (João 15.7).
Seria um cheque em branco sem limites se a promessa não tivesse uma condição: “Se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês, vocês receberão tudo o que pedirem”. Falo do assunto, pois a Parábola da Videira (João 15.1-7) é a leitura do Evangelho neste 5º Domingo de Páscoa que muitos cristãos vão ouvir nos bancos da igreja. E porque a gente liga a televisão e lá estão eles dizendo que “o nome de Jesus tem poder e os meus problemas acabaram”. No entanto, o cheque é sem fundos.
Também gostaria que todos os meus problemas fossem resolvidos e sonhos realizados. Ter uma casa com carrões na garagem, bastante dinheiro na conta, viajar e conhecer o mundo. Mas nunca me atrevi em pedir tudo isto. Nada contra aqueles que têm ou que almejam ter estas coisas, desde que não transformem isto em “deuses”. Mas até agora não encontrei em nenhum lugar da Bíblia tais promessas ao “filho fiel” – se é que existe este tipo de “filho fiel”.
Não quero desmotivar ninguém na oração, pelo contrário. Até porque o próprio Salvador é quem encoraja: “Peçam e vocês receberão”. Mais adiante o Senhor pergunta: “Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho quando ele pede um peixe?... Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu” (Lucas 11.9-13). No entanto, existe um “se”: “Se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês...”. Esta é a chave para a oração. Ou como Cristo disse: “Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada” (João 15.5).
Pois neste mundo com tanto ramo sem a “videira verdadeira” (João 15.1), tanto filho sem a mãe verdadeira, tanta gente sem a vida verdadeira, ainda existe esta epidemia consumista propagandeada por ladrões de ovelhas (João 10.1). A quadrilha que fraudou o INSS na região do Vale dos Sinos e outras por aí ao menos roubam apenas os bens materiais.
É preciso compreender o coração maternal de Deus para saber que a oração do toma-lá-dá-cá não é fé, mas negócio. “Se Deus nos deu o seu Filho”, escreve Paulo, “será que não nos dará também todas as coisas?” (Romanos 8.32). Por isto, “que a tua vontade seja feita” (Mateus 6.10) e nunca “eu determino em nome de Jesus”.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 07 de maio de 2009