O mundo assistiu Bush entrando “de sola” no Iraque e agora o vê saindo às “sapatadas”. Para nós, ocidentais, que entramos e saímos sem tirar os calçados, uma “sapatada” não diz grande coisa. Mas para aquela gente das terras bíblicas, a sola do sapato representa o lugar da imundícia. Não foi por nada que Jesus recomendou seus discípulos sacudirem o pó das sandálias quando saíssem de um lugar que tivesse rejeitado a boa notícia dos céus (Mateus 10.14). Bush rejeitou o bom senso e deixa para trás as truculentas pisadas dos seus soldados. Mas ele insiste em dizer: "É necessário para a segurança dos EUA, para a esperança iraquiana e para a paz mundial".
“Pare aí e tire as sandálias, pois o lugar onde você está é um lugar sagrado” (Êxodo 3.5), precisou ouvir um Moisés que deixou marcas de sangue no Egito e fugiu. Fazia 40 anos que tinha matado um egípcio para dar segurança aos seus patrícios. Seguiu o caminho da guerra em busca da paz, e deu no que deu. Agora precisava “tirar as sandálias” para atravessar o deserto e subir o monte. Pois a história antiga e a recente confirma isto, que é melhor tirar os sapatos antes que os atirem em nós. E o único jeito é agachando-se. Coisa complicada quando existe um rei na barriga. Por isto, se não conseguimos mais inclinar-nos, outros precisam fazer isto em nosso lugar. Para o Simão Pedro, que corta orelhas de soldados para proteger o Príncipe da paz, é ele mesmo, o Mestre que desamarra as sandálias do aluno e diz: “Se eu não lavar os teus pés você não será mais meu discípulo” (João 13.8).
Este é um princípio amplamente defendido nestes tempos com sofisticados sapatos anatômicos, de justificar as conquistas pisando nos outros. Com palmilhas confortáveis, estamos insensíveis à dura realidade dos que vivem no chão da miséria. É a antiga filosofia hedonista com sola recauchutada – do culto ao prazer egoísta – que enche o armário de calçados que nunca vai usar enquanto o próximo anda descalço. Por isto o alerta já naquela época: Não se conformem com este mundo secular (Romanos 12.2). Mais adiante o apóstolo aponta para um caminho sem tapetes vermelhos: Não sejam orgulhosos, mas aceitem serviços humildes. Que nenhum de vocês fique pensando que é sábio! Não paguem a ninguém o mal com o mal... (Romanos 12.16,17).
Pois nesta época do ano quando gastamos a sola dos sapatos adoidadamente atrás das compras, seria bom relaxar por alguns instantes, tirar o calçado e colocar os pés no chão. E assim, quem sabe, descobrir que se há tantos pés que se apressam para fazer o mal (Provérbios 6.18), ainda existem pés formosos, pés que anunciam coisas boas (Romanos 10.15), que calçam a prontidão para anunciar e viver o Evangelho (Efésios 6.15). O que não deixa de ser uma santa terapia, porque se Natal é aquele que disse “eu sou o Caminho”, só mesmo tirando os sapatos, ter os pés no chão, e assim descarregar o estresse da fútil correria.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 18 de dezembro de 2008
Jornal NH de 18 de dezembro de 2008