Alguém dizer que não tem mania já é mania: a de mentir. Agora, esta do Big-Brother é um surto de febre amarela que também tem vacina. Qual a explicação desta febre? E o que dizer da “patomania” lá na Itália? Isto mais parece uma patologia!
Um psicólogo comenta que o costume de olhar o outro torna-se doença quando o indivíduo perde a identidade e passa a viver a história de quem observa. “Doente é aquela pessoa que deixa de jantar para ver o outro jantando, ou põe em risco o trabalho para não perder um lance da vida do vizinho”. Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, é mais crítico: “O reality show é a fusão do pior da realidade com o pior do show, do pior do jornalismo com o pior do entretenimento”.
Alguns explicam o fenômeno da audiência de tais programas com uma decadência cultural. Lembram que o artigo 221 da Constituição Brasileira determina que rádios e televisões têm obrigação de estimular programas de finalidade educativa, artística, cultural e informativa, mas que a lei não é cumprida. Isto não é novidade num país com tantas leis inócuas. Esta tem validade, mas sabe-se que programas educativos não têm audiência porque não tem mercado. O negócio é vender – nem que seja leite fraudado. Alguns programas religiosos vendem, mas isto já é outro tipo de mania.
O sociólogo Ciro Marcondes observa que o que se vê hoje é a vida das pessoas deixando as ruas e entrando nas telas de suas casas. Pela Internet as pessoas conversam, compram, lêem, conhecem pessoas; a televisão trouxe através dos reality shows esta intimidade que já está nos sites de relacionamentos e dos blogs. “Mostrar-se, mas principalmente mostrar-se na tela, já que o outro mundo dissolveu-se no ar, torna-se a meta mais alta e a única”, acrescenta.
Enquanto isto educadores e psicólogos desaconselham tal programação para crianças por conta do erotismo e dos valores questionáveis. Lembram que tais programas prejudicam a formação da criança porque expõem os pequenos a uma competição sem valores morais e prematuramente à erotização, quando estes nem sempre diferenciam o real da fantasia. No entanto, deveriam pesquisar qual influência disto no comportamento do adulto, cidadão que lida com negócios, casado, pai ou mãe de família? Aí podem obter as respostas para tanta safadeza e corrupção nos paredões da política e da sociedade como um todo.
Sou suspeito no assunto. Em todo o caso, despreocupado em ser ou não moralista de batina, também tenho a minha opinião. Evidentemente com base bíblica: Encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios; isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente (Filipenses 4.8).
Não é preciso demonizar a televisão e exorcizá-la com “isto não entra na minha casa”. Mas por vezes não sei se esta atitude radical não leva vantagens em tempos de tanta opressão da TV sobre a mente das pessoas. Tão grande é a dependência da tela, que se de uma hora para outra ficássemos sem as suas cativantes imagens, não sobreviveríamos. Seria o fim do mundo. Ou o começo de um novo. Quem sabe com imagens verdadeiras da realidade dentro da própria casa.
Poderíamos fazer um teste: no lugar de aceitar o convite do Pedro Bial, ver algo mais interessante, quem sabe a mulher, o filho, alguém dentro da própria casa! Se conseguirmos, pode ser um saudável sinal de que desta mania estamos longe do paredão.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 17 de janeiro de 2008
Jornal NH de 17 de janeiro de 2008