A nova mansão de Edir Macedo é fruto da “fé” dele. São dois mil metros quadrados com 35 cômodos distribuídos por quatro andares. Dezoito suítes com hidromassagem, sala de cinema, elevador panorâmico, piso de mármore importado, enfim, tudo o que um reino deste mundo merece por 6 milhões de reais. Os 180 operários precisam entregar a obra até o fim de julho quando serão comemorados os trinta anos da Igreja Universal. No aniversário, Macedo pretende abrir as portas do seu palácio aos bispos mais próximos para celebrar sua riqueza material, um merecido direito dos fiéis segundo a teologia da prosperidade.
Tem muito político e lobista que têm casa parecida e fazem de tudo para ninguém descobrir. Edir Macedo, no entanto, já mostrou a mansão para a revista Veja. A obra é a melhor propaganda da igreja que segue os ensinos desta teologia que diz: “Os cristãos não precisam sofrer revezes financeiros, ser cativos da pobreza ou da enfermidade”. Se a bênção de Deus não se manifesta no filho de Deus, o problema é a fé, dizem eles. Pregam que as causas da doença e da pobreza, além descrença, são o desconhecimento dos direitos de cristão, o erro de não pedir ajuda, a falta de confissão dos pecados, e o encosto de Satanás que precisa ser expulso. Desta forma é possível descobrir quem é crente, basta olhar para a aparência. Dizem que o cristão deve usar o nome de Jesus como num talão de cheques sem limites. O “dinheiro” já está depositado, deve-se apenas emitir o “valor”. Frases do tipo “por amor de Jesus” jamais! A oração correta é: “Eu determino em nome de Jesus”.
Quem conhece a Bíblia sabe que não é nada disto. O cristão não precisa ser um coitadinho, mas tal teologia do poder é coisa que a gente já vê na política gananciosa do país. “Não ajuntem riquezas aqui na terra onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam”, adverte Jesus (Mateus 6.19). Lembrando o exemplo do Filho de Deus que era rico e se fez pobre, Paulo escreve que o abençoado sofrimento cristão não pode ser comparado com a glória que será revelada (Romanos 8.18). Mesmo com inabalável fé ele enfrentou pobreza e doença: “Tenho sofrido falta de comida, agasalho e roupa” (2 Coríntios 11.27). “Três vezes orei ao Senhor pedindo que ele me tirasse essa doença”, escreve o apóstolo. “Mas ele me respondeu: A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco” (2 Coríntios 12.8,9).
A maior de todas as heresias é esta, que riqueza e saúde são direitos do fiel cristão. A legítima mensagem bíblica sempre será: “Tudo depende não do que as pessoas querem ou fazem, mas somente da misericórdia de Deus” (Romanos 9.16). Esta fidelidade de Deus por meio de Cristo é a única garantia da vitória que confessa: Pois eu tenho a certeza de que nada pode me separar do amor de Deus, nem sofrimentos, dificuldades, fome ou pobreza (Romanos 8.35,38).
Marcos Schmidt
Artigo Jornal NH – 05 de julho de 2007