Foto panorâmica da Igreja

Foto panorâmica da Igreja

Evangelho de Lucas 20.27-40

Explicação do teólogo Gerson Linden sobre o Evangelho de Lucas 20.27-40, texto bíblico do culto desta segunda semana de novembro.


Mordomia da Oferta Cristã

Mordomia da Oferta Cristã

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Artigo - A única igreja

Isto que o Papa Bento XVI afirmou não deveria causar nenhuma surpresa. E vejo até algo salutar no diálogo ecumênico, porque agora a conversa terá um tom sincero, sem a preocupação do “politicamente correto”. Por isto, tem sentido a afirmação do padre Augustine di Noia, subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, de que a Igreja Católica não está voltando atrás no seu compromisso ecumênico, mas que é fundamental para qualquer diálogo que os participantes tenham clareza sobre sua identidade.
No polêmico documento há uma nova interpretação do Concílio Vaticano II, quando afirma que este não quis modificar a "precedente doutrina sobre a Igreja". Conforme as “Respostas”, as diversas igrejas cristãs ortodoxas, provenientes do primeiro cisma na igreja em 1054, podem ser chamadas de igrejas, pois mantêm entre seus ritos a eucaristia e a ordenação de sacerdotes. No entanto, quanto as outras, no caso as protestantes nascidas no século 16, afirma-se que não podem ser consideradas igrejas, pois "não contemplam o sacerdócio e não adotam a eucaristia, que simboliza a comunhão com Cristo". Segundo o noticiário do Vaticano, o documento encerra uma longa discussão teológica sobre o que de fato se quis dizer quando, no Vaticano II, chegou-se à conclusão que Jesus Cristo "subsiste na Igreja Católica", mas que há elementos de "santificação e verdade" fora dela.
Na verdade, esta tem sido a misteriosa diferença no diálogo ecumênico cristão – a clara definição de “igreja”. Em 1530, os teólogos luteranos apresentaram ao Imperador e aos teólogos romanos a sua carteira de identidade – a Confissão de Augsburgo. Entre os 28 artigos de fé, no 7º – Da Igreja, afirma-se aquilo que continua sendo a resposta tanto para este documento como para qualquer outro que surgir: “Ensina-se também que sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã. E a igreja é a congregação dos santos (crentes em Cristo) na qual o evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos administrados corretamente. E para a verdadeira unidade da igreja basta que haja acordo quanto à doutrina do evangelho e à administração dos sacramentos. Não é necessário que as tradições humanas ou os ritos e cerimônias instituídos pelos homens sejam semelhantes em toda a parte. Como diz Paulo: Uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos etc. (Efésios 4.4s.)”.
No entendimento das confissões luteranas, tradições, ritos e cerimônias não constituem norma de fé. A única fonte de doutrina é a Bíblia. As tradições na igreja, quando de acordo com o ensinamento bíblico, são apenas meios para salientar e propagar as próprias doutrinas das Escrituras. Neste entendimento, Lutero reformulou a própria palavra “católica” no Credo Apostólico, que originalmente significa “universal”. E assim os protestantes passaram a dizer: Creio na Santa Igreja Cristã – a comunhão dos santos.
Pode também ser polêmico, mas tal documento do Vaticano é corajoso e coerente com os dogmas da Igreja Católica, mesmo que na prática as coisas estejam caminhando diferente. E o grande desafio agora é um sincero diálogo em espírito de amor e respeito. Aliás, nesta sociedade pós-moderna onde tudo é relativo e nada absoluto, diferenças e respeito podem andar lado a lado sem jogar fora a coerência e o amor.

Marcos Schmidt
Jornal NH – 12 de julho de 2007