Uma imagem chamou a atenção semana passada: um braço decepado e preso entre enormes dentes de um crocodilo. O veterinário medicava o réptil num zoológico de Taiwan, e por descuido teve o braço esquerdo arrancado pelo animal. É difícil de acreditar, mas o braço foi reimplantado, ressuscitado. Tudo graças aos avanços da tecnologia, coisas que antigamente ninguém iria acreditar.
A Páscoa é uma história parecida – de algo reimplantado. E dependendo da época, do antes ou do depois, alguns vão acreditar e outros duvidar. Foi o que aconteceu com os discípulos. Na primeira aparição de Jesus após a sua morte, Maria Madalena confundiu-o com um jardineiro (João 20.15). No caminho para Emaús dois discípulos chegaram a conversar com Jesus sem saber que era ele (Lucas 24.16). No mesmo Domingo, quando todos os discípulos estavam juntos, o Senhor apareceu no meio deles, mas eles ficaram assustados e com medo pensando que era um fantasma (Lucas 24.36,37).
Alguma coisa fazia com que eles não reconhecessem Jesus. Será que ele estava diferente? A Bíblia afirma que o Salvador ressuscitou com um corpo glorioso, isto é, não mais sujeito às leis e condições físicas - a teologia cristã define esta doutrina de “estado de humilhação e exaltação de Cristo”. Falando da ressurreição dos cristãos, o apóstolo diz que os nossos corpos mortais serão transformados e serão iguais ao corpo glorioso de Cristo (Filipenses 3.21). Concluímos assim que Jesus apareceu aos discípulos com o corpo que tinha antes, com os mesmos aspectos físicos.
Mas então porque eles não conseguiram enxergar o seu Mestre? Na verdade, foi um tipo de “miopia”. Para aqueles dois discípulos a caminho de Emaús, o Senhor ressuscitado explicou: Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram (Lucas 24.25). Este também foi o problema dos outros – eles não acreditaram e por isto não enxergaram. Estavam obcecados com a realidade da morte. Na mente deles a única certeza era o túmulo, onde jazia um corpo desfigurado e sem vida. Só tinham olhos para a desgraça, o ódio, a violência. Aquela pedra removida do túmulo ainda tapava o coração deles.
O grande perigo neste mundo de imagens e miragens é só enxergar aquilo que se vê. E o que se vê? Psicopatas entrando em escolas e fuzilando colegas; gente morrendo de bala perdida; bandidos, policiais, juízes extorquindo e roubando; pais atordoados em meio à corrida estressante dos compromissos, esquecendo filhos dentro de carros e que morrem sufocados. Estas e outras imagens de horror e morte estão em nossa mente todos os dias – é isto que se vê. E é nisto que se crê.
Por isto, o primeiro milagre da Páscoa não é a ressurreição, mas a visão. Porque só ressurge aquele que enxerga uma nova realidade. Um transplante de córneas que continua acontecendo no coração de muitas pessoas. Foi o que aconteceu na vida daqueles discípulos, ou como diz o Evangelho: E Jesus passou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele... Aí os olhos deles foram abertos, e eles o reconheceram (Lucas 24.27,31).
Marcos Schmidt
Artigo para Jornal NH – 11 de Abril de 2007
Artigo para Jornal NH – 11 de Abril de 2007