Juízes, advogados, desembargadores, policiais e bicheiros foram presos, acusados de vender e comprar sentenças em favor de casas de bingo e máquinas caça-níqueis. Os juízes já estão soltos, configurando uma absurda situação de privilégios num país onde a Constituição diz que todos são iguais perante a lei. Enquanto isto, na próxima terça-feira é o 1° de Maio, dia de lembrar que ainda é o trabalho honesto que faz uma nação progredir.
Em todo o caso, um momento oportuno para a igreja discutir se convém usar tempo e dinheiro em jogos de azar. E aqui tanto faz para o cristão se isto ou aquilo é legal ou ilegal, se é permitido ou não pelas leis civis. Como se vê, não dá para confiar muito em liminares. Tem muita coisa permitida pelos códigos da terra, mas condenada pelo céu. A Bíblia não proíbe diretamente os jogos de azar, mas oferece princípios que orientam o filho de Deus que vive uma liberdade de escolha (Gálatas 5.1). Se o texto sagrado diz: Do trabalho de tuas mãos comerás (Salmo 128.2), então é preciso responder se jogo de azar é trabalho. A Associação Brasileira de Bingos argumenta que o setor gera milhares de empregos diretos e indiretos. O promotor de justiça Luiz Fernando Delazari contesta e afirma que jogatina não é geração de emprego. Segundo ele, os números estão muito aquém e tal argumento foi usado pelo traficante Fernando Beira Mar referindo-se aos empregos produzidos pelo tráfico de drogas.
O psiquiatra Hermano Tavares da USP, que coordena o Ambulatório de Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso, explica o perigo sobretudo com os jogos eletrônicos. Diz que alguém que nunca jogou e vai direto para um caça-níquel é como nunca ter fumado nada e ir direto para o crack. Quanto mais curto é o intervalo entre a aposta e o resultado, maior é o perigo. Jogo do bicho tem um potencial aditivo mais forte que loterias, diz este especialista. A pessoa faz uma fezinha pela manhã, pega o resultado, reaposta à tarde, vem o resultado e reaposta à noite. No jogo eletrônico, o intervalo é quase zero. A pessoa carrega a máquina com notas de R$ 50, aperta o botão e sai o resultado. Favorece a compulsividade porque a pessoa pode reapostar para recuperar suas perdas.
Um exemplo que confirma este perigo dos caça-níqueis vem do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde 90% dos doentes são os apostadores destas máquinas eletrônicas. As estatísticas apontam que os dependentes do jogo somam 4% da população mundial, e que o índice de dependentes de drogas entre tais jogadores é dez vezes maior. Isto prova que o jogo gera trabalho - trabalho para os psiquiatras, para a família que fica na miséria, para a polícia, para uma sociedade toda.
A igreja não precisa dar muita explicação em seus conselhos a fim de que o crente mantenha-se bem longe dos jogos de azar. O nome já diz tudo. Além do mais, há o perigo da idolatria, da ganância, do amor ao dinheiro, do desperdício, da má administração nas finanças. O apóstolo já recomendou: Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos com insistência a essas pessoas que são preguiçosas e se metem na vida dos outros, que vivam de um modo correto e trabalhem para se sustentar. E vocês, irmãos, não se cansem de fazer o bem (2 Tessalonicenses 3.11-13).
Marcos Schmidt
Artigo para Jornal NH – 25 de Abril de 2007
Artigo para Jornal NH – 25 de Abril de 2007