Sermão 26
2º Domingo de Advento, N.H., 6,8,9/11/2012
Tema: “O que faremos?”
Texto: Lc 3.10
Introdução
A. O Grito
O Grito
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O
Grito (no original Skrik)
é uma série de quatro pinturas do norueguês Edvard
Munch, a mais célebre das quais datada de 1893.
A obra representa uma figura andrógina num
momento de profunda angústia e desespero existencial. O plano de fundo é a doca
de Oslofjord (em Oslo) ao
pôr-do-Sol. O Grito é considerado como uma das obras mais
importantes do movimento expressionista e
adquiriu um estatuto de ícone cultural, a par da Mona
Lisa de Leonardo
da Vinci.
A
série tem quatro pinturas conhecidas: duas na posse do Museu
Munch, em Oslo, outra na Galeria Nacional de Oslo, e
outra em coleção particular[1].
Em 2012,
esta última tornou-se a pintura mais cara da história a ser arrematada, num
leilão, por 119,9 milhões de dólares.[2]
A
fonte de inspiração de O Grito pode ser encontrada na vida
pessoal do próprio Munch, um homem educado por um pai controlador, que assistiu
quando criança à morte da mãe e de uma irmã. Decidido a lutar pelo sonho de se
dedicar à pintura, Munch cortou
relações com o pai e integrou a cena artística de Oslo. A escolha não lhe
trouxe a paz desejada, bem pelo contrário. Munch acabou por se envolver com uma
mulher casada que só lhe trouxe mágoa e desespero e no início da década
de 1890, Laura a sua irmã favorita, foi diagnosticada com doença
bipolar e internada num asilo psiquiátrico. O seu
estado de espírito está bem patente nas linhas que escreveu no seu diário:
Passeava
com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu
parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo
sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas
eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.
Munch imortalizou esta impressão no
quadro O Desespero, que representa um homem de cartola e meio de
costas, inclinado sobre uma vedação num cenário em tudo semelhante à da sua
experiência pessoal. Não contente com o resultado, Munch tentou uma nova
composição, desta vez com uma figura mais andrógina, de frente para o
observador e numa atitude menos contemplativa e mais desesperada. Tal como o
seu percursor, esta primeira versão d’O Grito recebeu o nome
de O Desespero. Segundo um trabalho de Robert Rosenblum (um
especialista da obra do pintor), a fonte de inspiração para esta figura humana
estilizada terá sido uma múmia peruana que
Munch viu na exposição universal de Paris em 1887.
O
quadro foi exposto pela primeira vez em 1903,
como parte de um conjunto de seis peças, intitulado Amor. A ideia
de Munch era representar as várias fases de um caso amoroso, desde o
encantamento inicial a uma rotura traumática. O Grito representava
a última etapa, envolta em sensações de angústia.
B. Interpretação do quadro
Vemos
ao fundo um céu de (cores quentes), em oposição ao rio em
azul (cor fria) que sobe acima do horizonte, característica do expressionismo (onde
o que interessa para o artista é a expressão de suas ideias e não um retrato da
realidade). Vemos que a figura humana também está em cores frias, azul, como a
cor da angústia e da dor, sem cabelo para demonstrar um estado de saúde
precário. Os elementos descritos estão tortos, como se reproduzindo o grito
dado pela figura, como se entortando com o berro, algo que reproduza as ondas
sonoras. Quase tudo está torto, menos a ponte e as duas figuras que estão no
canto esquerdo. Tudo que se abalou com o grito e com a cena presenciada está
torto, quem não se abalou (supostamente seus amigos, como descrito acima) e a
ponte, que é de concreto e não é "natural" como os outros elementos,
continua reto.
A
dor do grito está presente não só na personagem, mas também no fundo, o que
destaca que a vida para quem sofre não é como as outras pessoas a enxergam, é
dolorosa também, a paisagem fica dolorosa e talvez por essa característica do
quadro é que nos identificamos tanto com ele e podemos sentir a dor e o grito
dado pelo personagem. Inserido-se o observador no quadro, passa a ver o mundo
torto, disforme e isso afeta diretamente a participação do mesmo, de forma quase
interativa, na obra.
C. Toda a angústia humana tem sua origem na
desobediência de Adão e Eva.
Com
ela entrou o pecado no mundo. Em última análise, o grande problema do ser
humano é o pecado. Não que doenças e problemas específicos sejam originados diretamente
por erros específicos. Pecados, dores, angústias, tudo nos leva ao grito: “Que
faremos?”
I. Toda angústia
humana pode ser expressa na pergunta feita a João Batista: “O que
faremos?”
A. Dizem que mais importante do que respostas
corretas são as perguntas corretas. Depende. Depende
se as pergunts forem para instigar a reflexão, aí tudo bem. Mas há casos em que
as respostas devem ser as certas. Quando se trata do destino eterno de uma
pessoa, então a resposta correta passa a ser vital: dela depende a vida ou a
morte eterna.
B. Diante da pregação de João Batista as pessoas
fizeram a pergunta certa: “O que faremos?” João
tinha pregado a necessidade de arrependimento: “Arrependam-se dos seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará
vocês.” É a mesma pregação que Jesus retoma ao iniciar seu ministério
público. Verdadeiro arrependiemnto consiste em tristeza por ter ofendido a
Deus, fé no perdão de Deus e disposição para não errar mais. Tudo isto deve ser
levado em conta ao se perguntar: Que
faremos? Que respostas vamos dar a esta pergunta?
C. O moço rico perguntou a Jesus: “Que devo fazer
para que seja salvo?” Como ele achava
que cumpriu os mandamentos, Jesus lhe disse: “Vai, vende tudo que tens, dá o dinheiro aos pobres. Depois vem e segue-me.”
Como ele era ganancioso, foi embora triste.
D. Os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem pode
ser salvo?” Isto logo depois de Jesus dizer que é mais fácil um
camelo passa pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino do Céu.
Jesus responde: “Para os homens é
impossível. Só é possível para Deus.”
E. Em Atos dos Apóstolos a pergunta se repete. Quando Paulo e seu colega são lebertados
milagrosamente da prisão o carcereiro exclama: “Que devo fazer para que seja salvol?”
II. Respostas (que
não satisfazem)
A. Abafar a voz da consciência. Simplesmente negar o erro. Acreditar que tropeços
são humanos, normais, e que não há consequências.
B. Esconder-se atrás de paliativos. Festas, orgias, bebedeiras, drogas em geral, fugas
de todo tipo. Oferendas a pretensos deuses e divindades.
C. Justiça própria. Como o moço rico, se
justificar: “Tenho cumprido os
mandamentos.
III. Respostas (que satisfazem)
A. Ml 3.5,7b: O que deve ser abandonado. Deus é contra: “os que não me respeitam, isto é, os
feiticeiros, os adúlteros, os que julgam falso, os que exploram os
trabalhadores e os que negam os direitos das viúvas, dos órfãos e dos
estrangeiros que vivem com vocês.” Mas Deus também convida: “Voltem para mim, e eu voltarei para vocês.”
Uma chamada ao genuíno arrependimento demonstrado em atitudes.
B. Fp 1.2-22: Paulo da prisão fala bem dos filipenses, colaboradores na
divulgação do evangelho. Não só creram no evangelho. Eles praticaram a fé.
C. Jesus Cristo deixou algumas coisas muito claras aos discípulos e a
nós. Sobre a justiça das obras, da lei: “Se
a justiça de vocês não for muito maior que a dos escribas e fariseus jamais
entrarão no reino de Deus” (Mt 5.20). Ao ser questionado sobre a
dificuldade de entrar no Reino de Deus por esforço próprio, Jesus diz que aos
homens é impossível, mas para Deus não há impossíveis. Só Deus pode nos salvar.
C. Atos dos Apóstolos. À pergunta do responsável pela prisão
dos apóstolos Paulo responde: “Crê no
Senhor Jesus e serás salvo, tu e toda tua casa.”
D. No texto de Lc 3: João Batista apontara certa vez para
Jesus dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo.” (Jo 1.29) No evangelho de hoje ele prega: “Arrependam-se para que sejam perdoados os
seus pecados.” Arrependimento sincero é tristeza porque se ofendeu a Deus e
não porque foi pego em flagrante, descoberto. Daniel Defoe (Reino Unido, 1719), autor de Robinson Crusoe, disse certa vez: “As pessoas não têm vergonha de seus erros e pecados. Elas têm vergonha
de publicamente se arrependerem.” As pessoas que chegaram para João Batista
para serem batizadas também tinham ideias falsas sobre como agradar a Deus: “Somos filhos de Abraão.” Hoje seriam
os que confiam que ao cumprir certas obrigações com a igreja serão salvas. Ou
por serem parentes de fulano. Ou por serem membros inscritos na igreja desde a
infância.
Quem está verdadeiramente arrependido
não confia em sua justiça ou no fato de ser de uma igreja, mas em Jesus Cristo,
morto na cruz por seus pecados. E esta pessoa prima por mudança. Quando o povo
perguntou a João Batista: “Que faremos?”
ele não titubeou em dar respostar claras, diretas, objetivas. Ao povo disse: “Quem tiver duas túnicas (capas de cima) dê uma a quem não tem nenhuma
e quem tiver comida reparta com quem não tem.” Aos cobradores de impostos: “Não
cobrem mais do que a lei manda.” Aos
soldados: “Não tirem dinheiro de
ninguém e contentem-se com o salário de vocês.” Todas estas obras são
frutos da fé, demonstram verdadeiro arrependimento. Sem tais obras a fé é morta
e o arrependimento não é verdadeiro.
Conclusão.
E você? Como se sente quanto a isso
tudo? Seu arrependimento é verdadeiro? Confia em sua santidade própria ou em
Jesus Cristo?
Se você é daqueles que exclama: “O que devo fazer?” Então ouça o que
diz o poeta sacro: “Andas fraco e
carregado / de cuidados e temor? / Vai ao Salvador amado, / vai com fé teu mal
expor. / Busca o teu melhor amigo. / Fala a Cristo em oração. / Nele encontras
terno abrigo / e repouso na aflição.” Amém.
Pastor Edgar Züge