3º Domingo após Epifania
22 de janeiro de 2012
22 de janeiro de 2012
Sl 62.5-12 Jn 3.1-5,10 1 Co 7.29-35 Mc 1.14-20
Tema: “É preciso seguir Jesus com coragem e responsabilidade”
pastor Marcos Schmidt
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Os textos bíblicos de hoje nos falam de um tema que pode ser muito bem entendido por nós, se prestarmos atenção a alguns fatos deste desastre que aconteceu com o navio italiano, que bateu nas rochas de uma pequena ilha.
Vivemos num mundo que está afundando lentamente, abatido nas rochas do pecado. Para nos salvar e ajuda na salvação de outros, precisamos deixar de lado nossas malas, objetos pessoais e de valor, e buscar rapidamente os botes salva-vidas.
No entanto, na hora da correria e desespero, nós podemos seguir o exemplo do comandante do Navio Costa Concordia, e de muitos passageiros.
Todos devem estar acompanhando as notícias a respeito deste acidente. O comandante está preso. Ele abandonou o navio quando deveria ser o último a sair, e ainda mentiu para a capitania dos portos.
Também há o relato da atitude deselegante e covarde de muitos passageiros na hora de abandonar o navio. A frase “mulheres e crianças primeiro” não foi respeitada. Este é princípio internacional em qualquer situação de perigo e tragédias. Mas os homens deixaram de lado o cavalheirismo e respeito, cada um pensando em se salvar primeiro.
Na verdade, o que faltou mesmo foi o amor – característica que marca a nossa sociedade. Algo predito nas páginas da Bíblia, quando Paulo escreve que nos últimos tempos as pessoas serão egoístas, desobedientes, sem amor, incapazes de se controlar, e atrevidas... (2 Timóteo)
Mas, e nós? O que estamos fazendo neste imenso navio que está afundando – esta humanidade caída no pecado? Será que não estamos fazendo igual ao comandante? Igual aos passageiros, que passaram por cima da mulheres e crianças para se salvar?
Como disse, as leituras bíblicas deste culto querem nos ajudar a refletir, e o imenso navio italiano, com todo o seu luxo e tecnologia, deitado e rendido, pode nos ajudar nesta reflexão...
Escreve o evangelista Marcos que após o convite de Jesus para segui-lo, os irmãos Simão e André “largaram logo as redes e foram com Jesus” (Marcos 1.18). Mais adiante, os irmãos Tiago e João deixaram o pai, os empregados, o barco e também foram com Jesus.
Mas, fica a pergunta: Como estes pescadores largaram tão depressa as suas redes, o barco, isto é, o seu emprego? Eles deveriam ter família para sustentar. Não foi uma irresponsabilidade, deixar emprego, posses, família?
E Jesus, como pode fazer um pedido destes?
Na verdade, a falta de detalhes na narrativa do Evangelho pode criar a impressão de que este chamado de Jesus tenha acontecido no primeiro encontro dele com estes pescadores. E que eles agiram de maneira inapropriada, irresponsável.
Mas, não foi bem assim!
Os quatro pescadores tiveram vários contatos com Jesus, houve muita conversa, reflexão, amadurecimento, para chegarem a esta decisão ao chamado de Jesus.
E com certeza Jesus não entregaria a tarefa de pregar o Evangelho para pessoas que não cumprem com seus compromissos familiares e profissionais. Pessoas irresponsáveis no trabalho e na família são pessoas irresponsáveis também na igreja. O apóstolo Paulo mesmo disse que quem deseja pregar o Evangelho deve saber governar bem a sua própria família para cuidar da Igreja de Deus (1 Tm 3.5).
Isto é preciso entender, que a mensagem do Evangelho, que anuncia o perdão dos pecados, não dá autorização para cometer outros pecados.
Desta forma, compreendemos o sentido das palavras “largaram logo as redes e foram com Jesus”.
“Redes, barco” hoje representam os valiosos instrumentos para uma profissão, coisas necessárias para o sustento terreno.
Assim, quando o texto bíblico diz que eles “largaram”, certamente foram capacitados por Deus para abandonar certos compromissos profissionais e familiares, sem cometer injustiças.
Lendo os outros Evangelhos, descobrimos que já fazia um ano que Jesus estava com eles, pregando e ensinando.
Deus não chama ninguém para assumir uma tarefa especial em seu reino, sem antes preparar o terreno e a pessoa. E quando Deus chama, negar o convite – isto sim é uma irresponsabilidade.
Foi o caso de Jonas – o profeta fujão. Ele fez algo parecido com o comandante do navio italiano. E Deus fez igual ao capitão dos portos – que virou herói na Itália, ao ordenar que o comandante voltasse urgentemente para o navio.
Deus foi atrás de Jonas, e fez com que ele sentisse na pele as conseqüências de um discípulo fujão. Jogado no mar e engolido por um grande peixe, Deus o colocou bem no meio da responsabilidade. Já arrependido, se tornou um valioso instrumento na missão de Deus.
Na verdade, todos nós, pastores e membros da igreja, recebemos um chamado de Deus. Cada um com suas capacidades e dons. Eu, pastor, na função de comandante do navio no que diz respeito a vida espiritual, sei que tenho responsabilidades bem maiores que vocês, e não posso sair antes. Minha oração sempre é esta: - “Ó Senhor, me ajude nesta tarefa, para que não seja covarde, omisso, irresponsável, fujão”.
Mas isto não tira a responsabilidade de vocês, membros, sejam líderes ou não.
Por isto a pergunta que fiz no início: o que esta história do navio italiano tem a nos dizer?
No caso de Jonas, ele precisava largar a falta de amor, o ódio, o preconceito, sentimentos que tinha contra os habitantes de Nínive. Humanamente pensando, ele tinha toda a razão, afinal, os ninivitas eram os inimigos número 1 do povo de Israel.
Sem dúvida, a primeira mala e objetos pessoais que alguém precisa largar na hora de sair do navio – a fim de seguir Jesus no serviço e no testemunho – é aquilo que está no seu próprio coração: os pecados da falta de amor a Deus e ao próximo.
No texto da epístola, 1 Corintios 7.29-35, Paulo menciona outro tipo de objetos e malas que precisam ser deixadas para trás: as preocupações com as coisas deste mundo.
“Não nos resta muito tempo”, diz Paulo. Ele está falando da urgência em anunciar o Evangelho.
Vimos pela televisão, imagens de pessoas evacuando rapidamente o navio. Não restava muito tempo para que eles saíssem do navio! Algumas não conseguiram e morreram.
Esta é a situação deste mundo, particularmente a vida de pessoas descrentes que podem morrer de uma hora para outra. Entre estas pessoas, estão nossos parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho...
Por isto, diz Paulo, os casados devem viver como se não tivessem casado, os que choram como se não estivessem chorando, os que estão rindo como se não estivessem rindo, os que compram como se não fosse deles aquilo que compram, os que tratam das coisas deste mundo, como que não estivessem ocupados com elas. Eu quero livrá-los de preocupações...
Se a gente não entender o sentido disto, pode-se outra vez pensar em irresponsabilidade. Mas o que Paulo fala é sobre prioridade e confiança em Deus.
Ora, todos sabemos o quanto as coisas deste mundo nos prendem em preocupações. Mas, um cristão que não confia na providência de Deus, não tem condições favoráveis para pregar o Evangelho.
Um cristão ganancioso, grudado no dinheiro, ansioso, aflito, tem sérias dificuldades para testemunhar ao outro sobre aquilo que está no salmo de hoje: Confie sempre em Deus. Abram o coração para Deus, pois ele é o nosso refúgio (Salmo 62.8)
É por isto que Paulo escreve: Não estou querendo obrigar ninguém a nada. Pelo contrário, quero que façam o que é direito e certo e que se entreguem ao serviço do Senhor com toda a dedicação (1 Co 7.35).
- Quero que façam o que é direito e certo, diz Paulo, isto é, que vivam com responsabilidade na família, na profissão. Mas não esqueçam de ser fiéis e dedicados na missão que Deus lhes entregou.
Na verdade, não é nada fácil este “largar as redes”, este “sair do navio”. Isto exige sacrifícios, custos, trabalho. Mas é preciso.
Não foi de uma hora para outra que aqueles pescadores disseram:
- Sim, Jesus, nós queremos te seguir!
Precisamos estar preparados, capacitados, e motivados para “largar” e “seguir”. E aí entra então a ação de Deus. A mesma ação que aconteceu com aqueles quatro pescadores de peixes.
E qual foi esta ação? Foi a presença de Jesus no meio deles, com a palavra dele.
O Salmo de hoje destaca isto. No versículo 11 lemos: Mais de uma vez tenho ouvido Deus dizer que o poder é dele, e o amor também.
Ora, se Deus ainda hoje chama a largar e seguir, ainda hoje ele capacita. E com o poder dele. Por isto a importância de buscar este poder em sua Palavra, e não na minha palavra. Em seu amor, e não no meu amor.
Creio sinceramente, que este navio, com todo o seu tamanho, luxo e tecnologia, não afundou por uma simples irresponsabilidade do comandante. Deitado e abatido nas rochas, as imagens impressionantes deste navio oferece uma grande lição para todos nós neste período da Epifania. Amém.