As festas de São João pouco ou nada lembram do João Batista. No lugar da fogueira, das comidas típicas e do folclore popular, é preciso então ir ao deserto e ouvir o que este profeta tem a nos dizer. Se estivesse hoje aqui, não proibiria as nossas festas juninas, mas nos faria provar outro quentão. Dizem que, por ser de origem pagã, tal festejo deveria ser evitado por cristãos. Se fosse o caso, deveríamos evitar a nós mesmos, o próprio corpo e alma, já que todos são concebidos e nascem pagãos (Salmo 51.5). Aliás, ao ser criticado por viver no meio de gente de má fama, Jesus deu um recado pontual: “João Batista jejua e não bebe vinho, e todos dizem: está endemoninhado. O Filho do Homem (Jesus) come e bebe vinho, e todos dizem: Vejam! Este homem é comilão e beberrão” (Mateus 11.18). Hoje o Salvador diria: Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Neste sentido, João Batista é uma fogueira ardente no caminho de qualquer um, pois todos são maus, corruptos, pagãos. As brasas que ele deixa pelo chão não permitem andar descalço. Profetizado no Antigo Testamento como aquele que vem preparar o caminho para o Senhor passar, sua mensagem é atualíssima: “Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do Céu está perto” (Mateus 3.2). João é radical. Ele abre a ferida e revela a podridão. “Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar?” Fariseus e religiosos de aparência precisaram ouvir o que todos devem ouvir: “Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados” (3.8).
Mais tarde João é preso e decapitado. É perseguido como qualquer denunciante nesta sociedade onde reina o pecado. Mas deixa o caminho aberto para Jesus, a “cabeça da igreja”. Sua mensagem permanece viva porque é a Lei de Deus abrindo espaço para o Evangelho do perdão. Por isto, quando chega Jesus, João precisa morrer. Ou então, a festa continuará pagã.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 23 de junho, 2011