“Todo mundo, sem exceção, é um pouco voyeur”, comenta o psicólogo Jacob Goldberg ao tratar sobre o Big-Brother. Mas explica que pode virar doença quando a pessoa deixa de almoçar para ver o outro almoçando, ou de trabalhar para não perder um lance da vida do vizinho. Para o psicanalista Jurandir Freire, existe também o perigo das más influências. Diz que “as pessoas de uma maneira geral querem encontrar na vida dos outros exemplos para entender e resolver questões de suas próprias vidas. O erro é que essas pessoas que se expõem são as menos indicadas para servir como parâmetro, como exemplo de vida”.
Qual a influência desses reality shows? Boa, ruim, nenhuma? Conseguimos mudar de canal ou até mesmo desligar a televisão? Referindo-se a este Big-Brother, o seu diretor deixou escapar: “Liberei a porrada entre eles! Será que vai rolar?”. Eles sabem que quanto mais brigas, cenas íntimas, e questões polêmicas iguais à transexualidade de uma atual participante – o resultado é audiência e o retorno financeiro. E é isto o que interessa.
Um exemplo clássico na Bíblia de voyeurismo e exibicionismo é a história de Davi e Bate-Seba (2 Samuel 11). Sem câmeras e binóculos, mas no terraço do seu palácio, o rei enxergou uma mulher muito bonita tomando banho. A história terminaria bem diferente se Davi fixasse os olhos mais na sua esposa, e Bate-Seba fechasse a cortina da janela sem provocar o rei. Mais tarde, Salomão, filho deste caso extraconjugal, recomendou sobre o adultério: “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos” (Provérbios 4.23). Ele ainda poderia dizer que os pensamentos são dirigidos pela visão.
“Venha ver”, disse Filipe para Natanael a respeito de Jesus (João 1.46). Ele foi, viu, e se tornou discípulo. Jesus já tinha dito para André e Pedro: “Venham ver”. E o resultado foi o mesmo. É o Evangelho do próximo Domingo na liturgia cristã, e que faz refletir nesta época de alta definição das telas: o mundo carece de boas imagens para ser melhor. Porque nada adianta uma tela grande, limpa e colorida, quando o que se vê é pequeno, sujo e obscuro. Sem dúvida, a gente pensa, faz e é aquilo que vê.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 13 de janeiro, 2011