Tinha lá meus 10 anos, e está bem gravado na memória. Levei um puxão de orelhas bem forte do meu pai ao chegar em casa, feliz da vida, por ter encontrado um maço de dinheiro na rua. Parte dele já tinha gasto com balas e chicletes. Outra vez fiquei de castigo no recreio escolar, e tive que escrever cem vezes no quadro negro “não devo roubar as bergamotas do vizinho”. “Eduque a criança no caminho em que deve andar e até o fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 22.6), avisa o texto sagrado. Será que esses vereadores aprenderam a lição “não roubar” quando crianças? Se lhes foi ensinado, os pais e professores deles devem agora estar extremamente envergonhados.
Lutero, no Catecismo Maior (1529), ao sugerir que o roubo, além de imoral, é um problema cultural, aconselha “inculcar o mandamento divino à gente moça, para que se acautelem e não sigam a velha e desenfreada multidão”. Falando à igreja, diz que a “nossa responsabilidade apenas é instruir e repreender com a palavra de Deus”. Mas reconhece que para isto “requerem-se príncipes e magistrados que tenham olhos e ânimo para estabelecer e manter ordem”. Um baita problema quando aquele que faz e executa as leis, que cuida dos bens públicos, é o próprio larápio. Uma praga em nossos municípios, estados, país.
Sem dúvida, honestidade é um princípio moral que precisa ser incutido na infância. Depois só mesmo a polícia. Mas outro empecilho quando “os juízes desonestos se vendem por dinheiro e por isso são injustos nas suas sentenças” (Provérbios 17.23). No entanto, para uma árvore que nasce torta e cresce torta ainda resta o corte profundo na raiz. À exemplo do desonesto Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos, visitado por Jesus (Lucas 19.1-10). Esse publicano parou de “fazer turismo com dinheiro público” após um cursinho presencial com Jesus. O resultado foi a decisão de entregar metade dos bens aos pobres e devolver quatro vezes mais do que havia roubado.
Nesta terça, no Jornal do Almoço, o flagrado presidente da Câmara de Triunfo fez o sinal da cruz antes de iniciar a sessão. Milagre de Zaqueu ou outra fachada? Pois ainda é tempo dessa turma mudar de vida, e no lugar de admirar a Garganta do Diabo nas Cataratas, atender a voz de Deus que ordena “não furtarás”.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 12 de agosto, 2010