A triste realidade no Brasil é que os bandidos não têm medo, enquanto os bons cidadãos têm. É a tal da impunidade. Por isto a repercussão do desabafo em público do oficial da Brigada Militar em Porto Alegre. “A sensação que fica é de descrédito nas instituições”, disse o tenente-coronel numa entrevista. “Quando tu prendes um delinquente de madrugada, e este delinquente é solto na tarde do mesmo dia, isso gera um descrédito nas instituições”. Eu mesmo presenciei um fato desses nas férias agora em janeiro. A Brigada prendeu adolescentes que arrombaram um comércio em frente à casa de minha mãe, mas soltou os bandidos logo depois. Um deles antes respondeu: “Eu vou roubar de novo”.
Está lá nas Escrituras: “Somente os que fazem o mal devem ter medo dos governantes, e não os que fazem o bem (...) Se você faz o mal, então tenha medo, pois as autoridades, de fato, têm poder para castigar” (Romanos 13.3,4). Mas isto agora mudou. Os bons precisam se esconder de medo, e os maus vivem tranqüilos por aí. De quem é a culpa? Do executivo, dos juízes, dos deputados, da polícia? Não sei, mas alguém é culpado. Creio que a culpa é de todos, começando pela passividade do povo que paga impostos, e seguindo pela omissão e conivência do poder público.
Uma das causas desta bandidagem sem medo vem de outro fato. O Brasil ocupa a 88º posição mundial no quesito Educação, conforme índices da Unesco. Nesta pesquisa, a categoria dos professores brasileiros está entre as menos valorizadas em termos salariais. O que causa desestímulo ao magistério e desistência de gente capacitada neste fundamental ofício. Tal situação, junto com a crise familiar, vem transformando nosso país num “Haiti” imerso sob os escombros da marginalidade social. No Haiti flagelado existem 400 mil órfãos. Aqui no Brasil são milhares de crianças sem pai, mãe e professor, seguindo pelo trágico caminho da desorientação, indisciplina, drogas, bandidagem. Nesta trajetória, logo seremos obrigados a construir mais cadeias do que lares e escolas.
É um problema grave, e não vejo solução sem uma mudança radical no comportamento moral e ético da sociedade. Mas enquanto isto, segue a recomendação aos cristãos de “viverem na lei do amor”. E interessante, uma orientação que vem logo após a citação bíblica de que somente os que fazem o mal deveriam ter medo: “Não fiquem devendo nada a ninguém. A única dívida que vocês devem ter é a de amar uns aos outros. Quem ama os outros está obedecendo à lei. Os seguintes mandamentos: ‘Não cometa adultério, não mate, não roube, não cobice’ — esses e ainda outros mais são resumidos num mandamento só: ‘Ame os outros como você ama a você mesmo.’ Quem ama os outros não faz mal a eles. Portanto, amar é obedecer a toda a lei. (Romanos 13.8-10).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 4 de fevereiro de 2010
Jornal NH de 4 de fevereiro de 2010