Esta tragédia na Itália me fez pensar num detalhe do Evangelho quando a cruz é o centro das atenções: “Aí Jesus deu outro grito e morreu (...) A terra tremeu, e as rochas se partiram” (Mateus 27.50,51). O chão da Bíblia sempre foi sujeito a terremotos. Está nas páginas do livro sagrado e nos anais da história. Mas não creio que o abalo sísmico daquela sexta-feira foi coincidência. Semelhante àquele tremor na cidade de Filipos quando Paulo e Silas ficaram livres da prisão porque “o chão tremeu tanto, que abalou os alicerces da cadeia” (Atos 16.26). Se terremotos provocam a morte, o martírio de Jesus abala os alicerces do mal para abrir as cadeias do inferno e livrar a humanidade da conta divina, dando-lhe vida.
A origem dos terremotos tem explicação científica. É o interior da Terra que se choca e provoca os tremores na superfície. No entanto, é complicado descrever o choque no coração das vítimas. Casas amontoadas, cidades em ruínas, vidas, histórias – tudo destruído. O depoimento de uma vítima de L`Aquila chama a atenção: “O que mais apavora é o silêncio. É passar no meio da cidade que você nasceu e cresceu e não encontrar ninguém”. O evangelista Mateus tentou descrever o pavor de algumas testemunhas diante do terremoto no Calvário: “O oficial do exército romano e os seus soldados, que estavam guardando Jesus, viram o terremoto e tudo o que aconteceu. Então ficaram com muito medo e disseram: - De fato, este homem era o Filho de Deus”. Mateus não comenta se eles disseram isto sob os efeitos do juízo ou do perdão. Na verdade, tal resultado sempre dependerá do epicentro do “abalo”. Isto porque existem dois tipos de tremores no coração humano: os que abrem portas de cadeias e os que soterram sob os escombros.
No livro bíblico de Hebreus, o autor comenta estes tremores. Um deles vem do Monte Sinai quando Deus entrega os Dez Mandamentos. Diz o texto que “aquilo que estavam vendo era tão terrível, que Moisés disse: “Estou tremendo de medo”. Outro vem do Calvário quando Deus entrega o seu Filho. Comparando os dois, o texto esclarece que “naquele tempo a voz de Deus fez com que a terra estremecesse, mas agora ele prometeu isto: Mais uma vez farei com que trema não somente a terra, mas também o céu. As palavras ‘mais uma vez’ mostram bem que as coisas criadas serão abaladas e mudadas, para que as que não podem ser abaladas continuem como estão. Por isso sejamos agradecidos, pois já recebemos um Reino que não pode ser abalado” (Hebreus 12.26-28).
A história diz que a cidade de L`Aquila deveria ter sido, nas intenções do fundador Frederico II em 1230, a nova Jerusalém. Mas hoje ela praticamente desapareceu. Isto vem outra vez confirmar que “as coisas criadas serão abaladas e mudadas”. Mas ao mesmo tempo consolar que já recebemos uma nova e indestrutível Jerusalém – uma terra onde não existe terremoto. Ou como diz a Bíblia: “Vocês chegaram ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial (...) Vocês chegaram até Jesus” (Hebreus 12.22,24).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 9 de abril de 2009