Está passando no cinema “Mandela – luta pela liberdade", filme baseado no livro de memórias do carcereiro James Gregory que conviveu com Mandela por 20 anos. Conforme sinopse, o filme transcorre sob o ponto de vista do sargento James Gregory, que assume a direção da penitenciária onde se encontra o famoso detento. No começo, Gregory é extremamente racista, e está disposto a qualquer preço para que os brancos não percam o controle político do país. Aos poucos, porém, quanto mais ele tem contato com Mandela, mais começa a rever seus conceitos.
Não vi o filme, até porque foi lançado há duas semanas. Falo desta obra cinematográfica por três motivos. O carcereiro é o ator Joseph Fiennes, o mesmo que interpretou Martinho Lutero no filme “Lutero”. Amanhã é 31 de outubro – dia em que Lutero em 1517 condenou publicamente o comércio do perdão dos pecados e deu início a luta contra o apartheid da igreja. E há um paralelo entre o carcereiro Gregory e o teólogo Lutero. Quem conhece a história de Lutero, percebe a semelhança. Só que o preconceito deste monge agostiniano era contra ele mesmo. Tornou-se carcereiro de Deus ao ingressar no mosteiro para conseguir perdão dos pecados e paz de espírito. Confinado numa sela sob os votos da pobreza, castidade e obediência, confessou mais tarde que sentia ódio de Deus. Mas foi ali mesmo no convento, em contato íntimo com as Escrituras Sagradas, que conheceu o Deus misericordioso revelado na face de Cristo.
O termo apartheid significa "separação", nome dado a este regime político sul africano que durante décadas impôs a dominação dos brancos sobre os negros. A Bíblia diz que os nossos pecados nos separam de Deus (Isaías 59.2). Um apartheid espiritual que, graças a Deus, não existe mais. Ou como escreve Paulo: “Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor” (Romanos 8.39). Com o fim deste regime diabólico, o único carcereiro agora sou eu mesmo - na ignorância e na descrença. É o que lembra Jesus: “Quem não crer será condenado” (Marcos 16.16).
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Mandela disse que "não há caminho fácil para a liberdade”. O apóstolo Paulo escreveu algo parecido – ele que também esteve na prisão. Disse que Cristo nos libertou para sermos realmente livres, e que assim devemos permanecer sem voltar à escravidão (Gálatas 5.1). Pensando em tudo isto, que a liberdade não vem de mão beijada, que o carcereiro sou eu mesmo, cabe agora decidir o que fazer com as chaves. “Eu lhe dou as chaves do Reino dos Céus”, lembra Jesus, “o que você fechar na terra será fechado no céu, e o que você abrir na terra será aberto no céu” (Mateus 16.19). No final, dependendo da decisão, estarei livre ou preso.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 30 de outubro de 2008
Jornal NH de 30 de outubro de 2008