Posso parecer petulante com a pergunta, mas creio que muitos eleitores gostariam de fazê-la: Quantos candidatos a vereador o meu município teria se o cargo político fosse voluntário?
Segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos". Já o Programa Voluntários, criado pelo Conselho da Comunidade Solidária em 1997 com o objetivo de promover e fortalecer o voluntariado no Brasil, define o voluntário como "cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário".
Evidentemente que o vereador voluntário necessitaria de sustentabilidade financeira, o que já acontece com a maioria deles que continua ativo em sua profissão fora da política. Assim como nas organizações não governamentais. Lembro aqui de uma que conheço bem, o CVV – Centro de Valorização da Vida. Conta com 2500 voluntários em 57 postos distribuídos pelo Brasil, que, segundo o seu site, “colocam-se gratuitamente a disposição de todos que sentem solidão, angústia, desespero e desejam desabafar”. É um serviço para prevenir o suicídio, através do apoio emocional oferecido por telefone ou contato pessoal. Poderia citar outros exemplos num universo de grupos organizados, ou mesmo de atitudes individuais. Dias atrás conheci uma senhora que dedica um dia da semana para visitar idosos numa casa de repouso.
O serviço do povo leigo na igreja é outro exemplo de voluntariado. Deste tipo de gente eu dependo e conheço. São pessoas que gastam a vida com o objetivo de construir o corpo de Cristo (Efésios 4.12). Poderia apontar para muita gente que sacrifica descanso, lazer, família, bens materiais, motivados pelo amor sem pretensão, fruto da fé naquele que disse: Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida para salvar muita gente (Marcos 10.45). É preciso sublinhar que toda a vida de um cristão, dentro e fora da igreja, é uma prestação de serviço voluntário ao próximo, seja na família, na sociedade, na congregação religiosa. Paulo escreve: Existem maneiras diferentes de servir, mas o Senhor que servimos é o mesmo. Há diferentes habilidades para realizar o trabalho, mas é o mesmo Deus quem dá a cada um a habilidade para fazê-lo (1 Coríntios 12.5-7).
Estima-se que 54% dos jovens brasileiros querem ser voluntários, mas não sabem por onde começar. Outra pesquisa diz que somente 7% dos jovens brasileiros prestam serviço voluntário, contra 62% nos Estados Unidos. Para mudar este quadro, dou uma sugestão: vamos começar em nossas câmaras municipais. Seria uma boa escola de cidadania política para aqueles que pretendem seguir no serviço público e exclusivo de prefeito, deputado etc. O voluntariado na vereança poderia ser exemplo e em parte o remédio para tanta ganância e corrupção em muitos setores da sociedade.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 11 de setembro de 2008