Por ser um espetáculo dedicado aos deuses da Grécia antiga, o imperador cristão Teodósio I, no ano 393, proibiu os Jogos Olímpicos. Conta a história que os atletas sacrificavam porcos aos deuses e participavam nus nas provas para cultuar a estética do corpo. Em parte, os jogos modernos permanecem enaltecendo o “espírito de porco” da humanidade, coroados no altar da soberba humana. Todos sabem da opressão que enfrenta o povo chinês para erguer o seu império e agora a estrutura extravagante da Olimpíada. Truculência que é comprovada no choro dos chinesinhos confiscados de suas famílias para centros de treinamento esportivo – tudo na obsessão de ganhar medalhas. Na verdade, a festa esportiva que simboliza a harmonia entre as nações está comprometida por uma cínica guerra de poder e vaidade, algo parecido com o jogo de interesses econômicos que derrubou o acordo na Rodada de Doha.
Muitos estão rejeitando a Olimpíada de Pequim por causa da opressão no Tibete. O canetaço de Teodósio que acabou com os jogos da antiguidade, seguido por todo o imperialismo da igreja na guerra santa contra o paganismo, no entanto, trouxe mais prejuízo que benefícios. Os números negativos estão no vermelho do próprio sangue, registrados na história das Cruzadas. Já no início do cristianismo o apóstolo Paulo foi contra o boicote, e por isto criticado por conviver junto aos gregos. Ficou incomodado ao ver a cidade de Atenas tão cheia de ídolos, mas foi isto mesmo que motivou a entrar no Areópago (a colina de Ares – deus da guerra) e pregar o Evangelho: - Atenienses, este altar onde está escrito “Ao deus desconhecido” é justamente aquele que eu estou anunciando. Não devemos pensar que Deus é parecido com um ídolo de ouro, de prata ou de pedra, feito pela arte ou habilidade das pessoas (Atos 17.23, 29). O resultado final foi a conversão de vários gregos e o surgimento de muitas igrejas locais.
E para deixar a hipocrisia de lado, o boicote precisa ser de tolerância zero. Porque é do coração que vêm o orgulho e todas as maldades (Marcos 7.20-23). Mas aí a coisa complica. E pensando nesta mania de querer competir e vencer, coisa que existe até na própria igreja, vejo que é um sentimento oriundo do Criador. Se não fosse a perversa natureza humana, seria útil para o serviço do bem e não para o prejuízo do próximo. Referindo-se à nova natureza criada pelo Espírito Santo, o apóstolo Paulo faz comparação: “O atleta que toma parte numa corrida não recebe o prêmio se não obedecer às regras da competição”. E no final recomenda: “Faça todo o possível para conseguir a completa aprovação de Deus” (2 Timóteo 2.5,15).
Num mundo competitivo como o nosso, onde vencer significa derrubar e passar por cima, o único boicote deve ser à prepotência. Ou como diz a Bíblia: Não procurem dominar as pessoas, mas prestem serviços e sejam humildes. Assim receberão a coroa gloriosa que nunca perde o seu brilho (1 Pedro 5.3-7).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 31 de julho de 2008
Jornal NH de 31 de julho de 2008