Confesso, deixei a declaração de renda para a última hora, o que complicou o meu tempo para escrever este artigo de cabeça fria. O assunto é a Ascensão de Jesus que coincidiu com o Dia do Trabalho. E aí pensei: subida de Jesus aos céus, trabalho, imposto de renda, acho que é por aí. Afinal, quantas coisas entopem nosso tempo e coração, coisinhas aqui debaixo, enquanto que Jesus lembra antes de ascender: Não fiquem aflitos, na casa do meu Pai há muitos lugares e eu vou preparar um lugar para vocês (João 14.1,2). É complicado viver estes dois mundos, o terreno e o celestial, o racional e a fé. No entanto, deste exercício nenhum cristão escapa, de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mateus 22.21). Por exemplo, a história do brasileiro Eike Batista, que afirmou nesta segunda-feira que "vai ser brincadeira" ultrapassar o Bill Gates e se tornar o homem mais rico do mundo. Será que ele almeja um lugarzinho lá no céu? Ele tem a 142º maior fortuna do planeta, e não esconde a “ascensão” que pretende: ser o primeiro no pódio dos ricos. Coitado, deve pagar muito imposto e ter bastante trabalho nesta missão. Fico pensando agora em outra coisa: a falta de comida no mundo. Bem que o Eike poderia abrir a mão e os celeiros. Ah, mas ele precisa eliminar 141 milionários, e não pode desperdiçar nenhum “grão de arroz”.
Mas, quem sou eu para falar deste empresário. Ele ao menos é sincero: “quero ser o mais rico”. Miseravelmente pode perder tudo (Lucas 12.20), mas ele tem um objetivo. Qual a ascensão que desejo? Conheço o caminho para onde quero ir? Tenho as coordenadas? Estou preparado? Este foi o problema do padre Adelir que subiu aos céus, grudado em balões de festa. O instrutor de vôo dele disse que o religioso não concluiu o curso e não sabia voar, mas mesmo assim “se jogou nessa". Quem sou eu também para julgar o padre Adelir, até porque este pode ser o meu próprio erro em arriscadas aventuras. Ascender cegamente em planos, até com boas intenções, mas esquecendo que os ventos mudam de direção. Por isto o alerta: Há caminhos que parecem certos, mas podem acabar levando para a morte (Provérbios 14.12).
Jesus subiu aos céus com propósitos bem definidos, preparado e autorizado pelo Pai, revelando gloriosamente o seu último ato visível na terra. Escreve Paulo: Assim, quem desceu é o mesmo que subiu, acima e além dos céus, para encher todo o Universo com a sua presença (Efésios 4.10). Uma presença garantida pelo próprio Salvador ao dizer que estaria conosco todos os dias até o fim dos tempos (Mateus 28.20). Na verdade, aqui começa a minha descida e subida, isto é, a minha vida. Ou como disse o apóstolo: Para mim viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se eu continuar vivendo, poderei ainda fazer algum trabalho útil (Filipenses 1.21,22).
Bem complicado hoje ter uma vida útil numa sociedade confusa em valores relativos. Por isto, dependendo para onde quero ir, e qual o caminho para chegar lá, o meu trabalho e a minha declaração de renda podem acusar que nem estou aí com a ascensão do Senhor. E no final, se deixei para a última hora, posso entrar num tráfego congestionado. Por isto, melhor é imediatamente fazer a pergunta de Tomé: Como posso saber o caminho? E crer na resposta daquele que subiu: Eu sou o caminho, ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim (João 14.6).
Marcos Schmidt
Jornal NH de 1º de maio de 2008
Jornal NH de 1º de maio de 2008