De que forma Jesus foi pregado na cruz? Da maneira como estamos acostumados a ver na cena tradicional? Pois uma nova imagem está dando o que falar. Num documentário da rede de televisão britânica BBC, Jesus aparece crucificado com os braços levantados para cima. O produtor do desenho tomou como referência o ossuário de uma pessoa crucificada no primeiro século da era cristã, descoberto em Jerusalém. E conclui que provavelmente está é a real imagem de Jesus na cruz.
Puro sensacionalismo para vender notícia. Sem falar que a “revelação” cheira a mofo: a descoberta arqueológica é de 1968. Depois de 40 anos isto é jogado na mídia com intenções bem explícitas. Dias atrás comentava com alguém: Qual será o fato bombástico nesta Páscoa tentando estremecer os fundamentos da fé cristã? E aí está: Jesus crucificado de braços levantados para cima. Isto já virou rotina nesta época - a divulgação de “fatos novos” que contradizem os ensinos básicos do cristianismo. Foi assim com a Tumba de Jesus, o Evangelho segundo Judas, o Código d’Vinci.
No entanto, esta polêmica imagem agride tão somente a tradição. Tanto faz se Jesus morreu na cruz de braços abertos para os lados ou para cima. O que interessa é o fato de que Deus acabou com a conta da nossa dívida, pregando-a na cruz (Colossenses 2.14). Até porque não existe nenhum registro nas Escrituras com descrições pormenorizadas, revelando detalhes das atrocidades contra o Filho de Deus no madeiro. A Bíblia não é sensacionalista. Aliás, se Deus quisesse chamar a atenção para este tipo de coisa, teria enviado o seu Filho nos atuais tempos tecnológicos. Imaginem todos os detalhes do Calvário, captados pelas indiscretas câmeras digitais?
Há quatro anos Mel Gibson justificou a excessiva violência nas imagens do filme A Paixão de Cristo, dizendo que “a idéia era mostrar a dimensão do martírio a que Cristo foi submetido para redimir a humanidade de seus pecados, de modo a provocar a reflexão sobre o sofrimento que cada homem impõe ao outro”. Parece que as chocantes imagens do filme já perderam tal dimensão. Assim como a própria violência, banalizada pelas insistentes cenas globais de horror, espalhadas via satélite.
Neste universo de imagens virtuais, o poder permanece na palavra real da cruz. É isto que provoca polêmica. Ou como escreve Paulo: A mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus (1 Coríntios 1.18). Portanto, nada de novo sobre tais provocações da ciência humana, quando “Deus tem mostrado que a sabedoria deste mundo é loucura (1 Coríntios 1.20).
O que importa mesmo é a posição dos nossos braços, voltados para cima, de onde vem a salvação. Diferente de braços para os lados agarrando coisas que logo viram ossuários. Braços da tradição sobrecarregados pela contradição. Braços contraídos numa indigestão por peixes e chocolates estragados. Braços cruzados que abandonam a cruz de Cristo (Marcos 8.34). Braços que crucificam outra vez o Filho de Deus e zombam publicamente dele (Hebreus 6.6).
Pois, neste Gólgota de expectadores, o sensacionalismo continua atraindo multidões. E mais uma vez as atenções voltam-se para a cruz. Nela, os braços dele continuam abertos, não para cima, nem para os lados, mas em nossa direção.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 13 de março de 2008
Jornal NH de 13 de março de 2008