O presidente George Bush salvou dois perus do forno, no famoso “gesto de misericórdia” que se repete a cada ano nesta cerimônia prévia à festa de Ação de Graças nos Estados Unidos. Após, os dois animais perdoados viajaram até o parque da Disney World, a fim de participar de um desfile deste importante feriado local. Coisa de norte-americano! Mas, e aqui no Brasil, qual o gesto de misericórdia que o Lula poderia proporcionar e transformar isto numa tradição? Quem sabe, salvar nossa governadora Yeda e o secretário da Fazenda, Aod Cunha, perdoando esta dívida que depena sem dó e assa em banha-maria a sociedade gaúcha? O próprio presidente disse nesta semana, ao lembrar a fantástica descoberta de petróleo, que agora está provado que “Deus é brasileiro”. Então, nada mais justo a prática do perdão neste país abençoado!
Se esta mina de petróleo é mesmo uma bênção, neste momento quando se discute o aquecimento global, isto só o tempo responderá. Mas numa coisa podemos ter certeza: vivemos, sim, num lugar maravilhosamente abençoado. Tirando fora a violência, a corrupção e alguns políticos – Deus não tem nada com estas histórias – há motivos de sobra para levantar as mãos aos céus e dizer: “Muito obrigado, ó Senhor. Te agradeço, porque não temos ciclones iguais a este que matou milhares de pessoas em Bangladesh”.
O problema é que não conseguimos enxergar as coisas boas que vêm do alto. E por isto nossa estúpida ingratidão. Algo parecido com uma historinha. Um menino caiu nas águas perigosas de um cais marítimo e felizmente salvo por um marinheiro. No outro dia a mãe do menino encontrou o bom homem, e indignada, logo perguntou:
- Foi o senhor que entrou na água para tirar meu filho? Então, onde está o boné dele?
- Onde está o meu boné, Senhor?
Este descabido ponto de interrogação aparece seguidamente em nossa cara. É só perdermos coisas que julgamos mais importantes, e então nossa revolta contra os céus. Quanta ingratidão! Afinal, Deus nem mesmo deixou de entregar o próprio Filho, lembra o escritor sagrado, mas o ofereceu por todos nós! Se ele nos deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas? (Romanos 8.32). Mas, e quando faltam estas “coisas”? Estes “bonés”? É bom lembrar que nestas horas ainda temos o amor de Cristo – a vida verdadeira! E daí a pergunta que já é resposta: Então quem pode nos separar do amor de Cristo? Serão os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição, a fome, a pobreza, o perigo ou a morte? (Romanos 8.35).
Neste Dia de Ação de Graças lembro do Salmo 103 (2-5): Que todo o meu ser louve o Senhor, e que eu não esqueça nenhuma das suas bênçãos! O Senhor perdoa todos os meus pecados e cura todas as minhas doenças; ele me salva da morte e me abençoa com amor e bondade. Ele enche a minha vida com muitas coisas boas, e assim eu continuo jovem e forte como a águia.
É até saudável não esquecer nenhuma das bênçãos de Deus, sobretudo de que ele perdoa todos os pecados. Aliás, aí começa a ação de graças: na certeza da anulação desta dívida impagável. Um alento neste mundo de injustiças, cobranças, ingratidão, falcatruas. Um gesto de misericórdia daquele que oferece, mesmo quando não existe nada para dar em troca.
Marcos Schmidt
Jornal NH de 22 de novembro de 2007
Jornal NH de 22 de novembro de 2007