Privilégios, interesses, poder, status, dinheiro... Às vezes é isto ou a voz da consciência. Por aquilo que acontece na política, nos negócios, e até na religião, dane-se a boa consciência. Renan Calheiros, por exemplo, saiu por causa da CPMF, mas permaneceu grudado na cadeira por outro imposto: os conchavos políticos pela movimentação das falcatruas.
“Eu não posso ir contra a minha consciência”. Esta frase derrubou os alicerces do império sacro-romano na Idade Média. Foi na Dieta de Worms, 1521, perante o imperador, 6 príncipes, 28 duques, 11 marqueses, 30 bispos, 200 estadistas e 5 mil curiosos. O monge Lutero manteve-se irresoluto: “A não ser que eu seja convencido mediante testemunho da Escritura Sagrada ou fundamentos e razões comprovadas, claras e evidentes, não posso e não quero me retratar de coisa alguma, porque não é seguro e nem aconselhável proceder contra a consciência”. Era uma consciência indignada contra uma infame CPMF - as cartas papais da movimentação do falso perdão.
Certamente não faltaram tapinhas nas costas, afagos e cochichos, propondo títulos, principados, castelos, carruagens etc. Afinal, o que estava em jogo era a manutenção de um império. No entanto, bradou mais forte a voz nos miolos deste filho de mineiro de carvão. Se o propósito das teses naquele 31 de outubro de 1517 era tão somente um debate teológico sobre as tais cartas que garantiam perdão dos pecados em troca de dinheiro – agora era o invisível martelo do certo ou errado que batia na bigorna do coração. Voltar atrás seria o mesmo que dizer: A resposta está na movimentação financeira e não no sacrifício de Cristo.
Tudo começou mesmo com uma consciência enganada. Lutero viveu a infância e a juventude sob um insuportável peso espiritual. Fez votos de pobreza, obediência e castidade na vã tentativa do alívio. Mais tarde confessaria numa composição musical: “Nas minhas obras, sem valor, nenhum proveito havia; por natureza, um malfeitor, odiando a Deus me via. O medo, então, me fez sofrer e, em desespero compreender que ao fogo eterno iria. Mas Deus me teve compaixão, doeu-lhe minha sorte; em seu bondoso coração me quis livrar da morte. Chegou-se a mim tão paternal e, com extremo amor real, me deu Jesus, Deus forte”.
A Escritura declara que o sangue de Cristo tira as culpas e purifica a consciência, e assim a pessoa pode servir ao Deus vivo, pois já não pratica obras sem valor (Hebreus 9.14). Também diz que existem pessoas hipócritas e mentirosas que tem a consciência morta como se tivesse sido queimada com ferro em brasa (1 Timóteo 4.2). E por isto recomenda: Conserve a fé e mantenha a consciência limpa. Algumas pessoas não têm escutado a própria consciência, e isso tem causado a destruição de sua fé (1 Timóteo 1.19).
Na verdade, se os impostos são justos ou não, tudo depende de onde vem a resposta, se do governo ou da oposição, dos que recebem ou dos que pagam. No final é uma questão de livre consciência, o como disse Jesus: Dêem ao imperador o que é do imperador, e a Deus o que é de Deus. E dependendo da escolha, pode-se dizer com Davi: Quando me deito, durmo em paz, pois só tu, ó Senhor, me fazes repousar tranqüilo (Salmo 4.8).
Marcos Schmidt
Jornal NH – 18 de outubro de 2007
Jornal NH – 18 de outubro de 2007