Com o tempo a gente esquece a idade que tem. Não por um lapso de memória nem por um defeito de vaidade, mas por uma questão de sobrevida. Afinal, cada ano que passa são doze meses a menos de existência. Por isto 2007 não é bem vindo! Toda a festa, os brindes, as felicitações, é puro cinismo misturado com pavor, tudo para agradar o chefe do calendário. Este 2007 que chega pelo corredor do tempo com seu passo firme e preciso, é o arrogante dono da festa que vem promulgar: Eu vou contar até 365 e depois desligo a luz. 2007 não é novo, de jeito nenhum! É um velho enrustido atrás de uma plástica mal feita, que não consegue apagar as rugas e as pelancas de coisas que nunca morrem. 2007 é um zumbi que vem em nossa direção quando não conseguimos fugir, tipo aqueles sonhos em que se corre apavorado sem sair do lugar. 2007 é o começo desta contagem irritante: primeiro de janeiro de 2007, dois de janeiro de 2007, três de... Ninguém agüenta! 2007 é a mesmice de números que não aumentam mais diminuem. Diminuem a audição, saúde, força, expectativas, metas, vida. Alguém já disse que a vida deveria começar na velhice e terminar na barriga da mãe, a gente ficando novo em vez de velho a cada ano. Mas a vida, digo a morte, é invariavelmente assim mesmo.
Está lá no livro sagrado: Não há nada de novo neste mundo. Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos (Eclesiastes 1.9,10). Quem sabe é por isto que a Bíblia não tem preocupação cronológica com acontecimentos históricos. Nem o nascimento de Jesus - o único fato novo neste mundo sem novidades – é datado pelos evangelistas. E nem podiam, já que os antigos calendários romanos eram pouco confiáveis, além de que datas de nascimento ou morte eram privilégios de poucos quando o tempo era tratado de forma cíclica e repetitiva sob a perspectiva da Lua, voltado para a agricultura. Nem o nosso atual calendário é confiável. Inventado pelo monge Dionysius Exiguus no século sexto, calculou mal a nova contagem feita a partir do nascimento de Cristo. Nestes tempos precisos de milésimos de segundos, ironicamente estamos atrasados uns seis anos depois de Cristo.
Mas o que interessa a precisão de datas quando a gente começa a esquecer a idade que tem, além de outras coisas? E até seria muito desagradável festejar a chegada de 2013, pois o mundo aparentemente estaria mais velho. Ou estaria mais novo? Aproximando-se para o novo céu e a nova terra? (Apocalipse 21.1) E o que é o tempo quando para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia? (2 Pedro 3.8)
Quem sabe este erro do monge nem é um erro, mas um acerto proposital em que o Senhor do tempo mostra a sua bondade. Porque são seis anos a mais de Natal, o tempo da salvação. São seis anos que podem ser a sábia recomendação: Aproveitem todas as oportunidades que vocês têm (Efésios 5.16). Ou a confirmação dos céus: Quando chegou o tempo de Deus mostrar a sua bondade, ele atendeu o nosso pedido e nos socorreu quando chegou o dia da salvação (2 Coríntios 6.2).
Pensando assim, 2007, ou 2013, é muito bem vindo! Deixa de ser um tic tac irritante do cartão ponto de uma jornada inútil e monótona, transformando-se num tempo livre e novo. Assim, não somos mais escravos do tempo, porque, quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei para libertar os que estavam debaixo da lei (Gálatas 4.4,5).
Marcos Schmidt
(Artigo para o jornal NH - 28.12.2006)
(Artigo para o jornal NH - 28.12.2006)