Foto panorâmica da Igreja

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Evangelho de Lucas 20.27-40

Explicação do teólogo Gerson Linden sobre o Evangelho de Lucas 20.27-40, texto bíblico do culto desta segunda semana de novembro.


Mordomia da Oferta Cristã

Mordomia da Oferta Cristã

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Artigo - Solidão

O chinês gigante que pisou o Brasil com seu pé tamanho 57 deve ser uma pessoa solitária. O mais alto do mundo, 2,36 metros, confidenciou que, aos 55 anos, jamais conseguiu uma namorada. Deve ser mesmo difícil arrumar uma, ele que vive numa casa especialmente construída para o seu tamanho desproporcional.
O poeta inglês Rupert Brooke (1887-1915) era de estatura normal, mas sofria extrema solidão. Certa vez numa viagem de navio todos no convés tinham alguém para se despedir, menos ele. Observando aqueles abraços, beijos e despedidas, desejou ter alguém que sentisse sua falta. O poeta vislumbrou um jovem e perguntou seu nome. “William”, foi a resposta do rapaz.
- William, você gostaria de ganhar algumas moedas?
- Claro que sim! O que devo fazer?
- Apenas acene para mim quando eu partir, instruiu o poeta solitário.
Mais tarde relatou: Algumas pessoas sorriam e algumas choravam, algumas abanavam lenços brancos, outras abanavam chapéus. E eu? Eu tinha William que, por poucas moedas, abanava seu enorme lenço vermelho e impedia que me sentisse completamente só.
Enquanto é um conflito na vida de muita gente, para outros é um desejo. O navegador Amyr Klink em seu livro Cem dias entre o céu e o mar, descreve algo interessante: “Passados dois meses, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento, um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher, solidão foi a única coisa que não senti depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade."
Para o mais solteiro do mundo, uma costela foi a solução divina: “Não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que lhe ajude como se fosse a sua outra metade” (Gênesis 2.18). A desobediência contra o Criador, no entanto, trouxe desgraça nas relações. Referindo-se à vida conjugal, o cronista Pedro Bondaczuk lembra: “Há, porém, uma forma de solidão mais comum e muito mais incômoda e dolorosa. Não raro, ela deixa marcas profundas em nossa mente e é causa de grande sofrimento, que se transforma em complexos de inferioridade, neuroses, psicoses ou coisas piores. Tem motivado, inclusive, tragédias, como agressões físicas e morais, assassinatos, suicídios etc. Refiro-me à chamada solidão a dois”. Mas se existe alguém que mais sofreu deste mal, este foi o Filho de Deus. “Meu Deus, por que me abandonaste?”, gritou desesperado na cruz ele que carregava completa e necessariamente só as culpas dos outros. Por isto, o terrível sentimento de abandono tem raiz mais profunda que muitas desenterradas em consultórios. Foi isto que descobriu o rei Davi na solidão do poder: Ó Deus, olha para mim e tem pena de mim, porque estou sozinho e aflito (Salmo 25.16). Agostinho, um teólogo do século 3, expressou tal necessidade da presença de Deus confessando: “Tu nos formaste para Ti mesmo e nosso coração não tem repouso enquanto não descansa em ti”.
É doloroso ouvir isto, mas é no abandono que encontramos o Amigo de todas as horas. Ele mesmo recomendou: Quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore em segredo ao seu Pai, que não pode ser visto (Mateus 6.6). Também prometeu: Nunca te deixarei abandonado (João 14.18).
Marcos Schmidt
(artigo para o Jornal NH de 9 de novembro de 2006)