O Brasil tem 8% de analfabetos absolutos e 67% de analfabetos funcionais - leitores que lêem mas não entendem. Outra pesquisa diz que boa parte dos jovens brasileiros do ensino fundamental também não entende o que lê, mas só o que ouve. Não é analfabetismo funcional, explicam os entendidos, porque não se manifesta apenas em pessoas com baixa escolaridade. É um fenômeno intelectual num tempo em que o texto praticamente sucumbiu ao recurso visual, principalmente à imagem da televisão, internet e vídeo game.
Situação deprimente quando a própria tarefa da igreja é fazer as pessoas sentirem gosto pela palavra do Senhor e nela meditarem dia e noite (Salmo 1.2). Como cumprir isto se a maioria tem dificuldades com as letras? Coisa parecida no tempo de Lutero, e por isto não poupou a consciência dos governantes: “Tomai a peito esta obra, Deus a requer, vosso cargo a exige, é necessário à juventude, e nem o mundo nem o espírito pode dispensar. Chega de ser bestas alemães. Basta de arruinar e apodrecer na escuridão”. Na insistência de uma escola ao lado de cada igreja, o teólogo abriu caminho não só para o desenvolvimento espiritual, mas também para o social e econômico da nação alemã. Quando esta cultura migrou para o Brasil, muitas escolas foram construídas e mantidas por congregações luteranas, cooperando com o progresso local. Lamentavelmente, a maioria fechou devido a incompetência política.
Sem dúvida é disto que o país necessita para o seu progresso. É também o caminho para diminuir o problema da própria corrupção. Porque, enquanto a maioria dos brasileiros não lê e não entende o que lê e boa parte da juventude só entende o que vê, por outro lado, um percentual é de gente letrada. E dentre estes alguns bem espertos, que sabem usar ardilosamente a palavra para enganar. De forma drástica, garfo e faca nas mãos de certos políticos, religiosos e outros aproveitadores inescrupulosos.
Na luta contra a corrupção espiritual, entender o significado das palavras é imprescindível. Por isto Lutero argumentou: “As pessoas simples e a juventude precisam e devem ser treinadas e instruídas diariamente nas Sagradas Letras para que se habituem às Escrituras e nelas sejam aptos, competentes e versados, para declarar sua fé e, com o tempo, ensinar outros a contribuir para o crescimento do reino de Cristo. É por amor deles que precisamos ler, cantar, pregar, escrever e inventar”. Na verdade, não é preciso ser letrado para ser cristão. A fé é um dom divino sem interferência humana (Efésios 2.8-10). Mas, o crescimento desta fé exige exploração das letras. Não é por nada que o apóstolo recomenda seu discípulo: Procure dedicar-se à leitura em público das Escrituras Sagradas, à pregação do evangelho e ao ensino cristão (1 Timóteo 4.13).
Em meio a tantas propostas para um país melhor, esta deve ser levada a sério. É o que diria hoje o escritor Lutero: Chega de ser bestas brasileiros. Basta de arruinar e apodrecer na escuridão.
Marcos Schmidt
(está acontecendo a Feira do Livro em Novo Hamburgo,
e neste contexto o artigo sai no Jornal NH, 05/10/2006)
